Candidato a ministro do STF foi o principal pregador do culto em homenagem a Bolsonaro em Manaus

O juiz federal William Douglas, da 4ª Vara de Niterói (RJ), que está em campanha para ser indicado ao Supremo Tribunal Federal (STF) em 2020, foi o responsável pela pregação principal do culto realizado agora há pouco no auditório Canaã, da Igreja Assembleia de Deus, em Manaus. A princípio, os organizadores do evento, os pastores Jônatas e Samuel e o deputado federal Silas Câmara, todos irmãos, haviam anunciado que o evento teria o objetivo apenas de agradecer a Deus pela vida do presidente Jair Bolsonaro, mas a presença e o discurso do magistrado roubaram a cena.

Douglas dedicou praticamente toda a pregação de cerca de vinte minutos a firmar posição como um magistrado “terrivelmente evangélico”, como o presidente disse, em julho último, que seria o primeiro indicado por ele ao STF. Defendeu que a maioria evangélica se impusesse no país – “demoramos muito para conquistar esta posição e agora querem nos proibir de escolher o que queremos?” -, pregou o respeito às autoridades, citando a Bíblia, exortou os irmãos a escolher políticos religiosos e agradeceu ao presidente por ter impedido que as Igrejas fossem tributadas. “O Estado é laico sim, mas não pode ser laisicista”, disse, tergiversando sobre a influência religiosa na política. E pra completar, citou a “deslealdade” da imprensa como um adversário do presidente, claramente pretendendo agradá-lo.

No próximo ano, aposenta-se do STF o ministro Celso de Mello, considerado o decano da corte, e Bolsonaro será o responsável por escolher o substituto. Douglas concorre diretamente com seu colega Marcelo Bretas, que comanda a Lava Jato no Rio de Janeiro, e com o corregedor do Conselho Nacional de Justiça Humberto Martins.

Entre os irmãos Câmara, o deputado Silas é o mais implicado com a Justiça. Já foi condenado por falsidade ideológica pelo próprio STF – só não foi preso porque o crime prescreveu – e responde a vários outros processos. Atual presidente da Frente Parlamentar Evangélica, ele foi elogiado por Douglas durante o discurso/pregação, como sendo um dos responsáveis pela “salvação” das Igrejas no episódio da tributação. Não por acaso, fez o discurso menos aplaudido, apesar de ter se esforçado – e se esgoelado – para agradar a plateia e o convidado.

Em discurso curto, como sempre, Bolsonaro disse ter gostado das palavras de Douglas. “Já ouvi falar seu nome”, disse ele, dirigindo-se ao juiz, citado depois mais duas vezes. Mantendo o estilo, o presidente soltou algumas pérolas – “No meio político a verdade sempre está longe de nós” foi a que mais chamou atenção, pronunciada ao se dirigir aos deputados federais presentes na cerimônia. Ele também justificou a nova troca de partido. “Não precisamos escolher um partido para servir ao Brasil. Podemos fazer isso em qualquer um deles”, declarou.

Política à parte, Bolsonaro sentiu-se em casa no Canaã. Foi o mais aplaudido de todos os presentes, até mesmo que os donos do pedaço. Estava ao lado da esposa,, Michelle, do governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC) – com a esposa, Taiana -, do governador de Roraima, Antonio Denarium, e de várias outras autoridades locais, como o presidente da Assembleia Legislativa, Josué Neto (PSD), o superintendente da Suframa, Alfredo Menezes e o presidente da Câmara Municipal de Manaus, Joelson Silva (PSDB), também pastor da Assembleia de Deus.

Chamou atenção a presença dos dois parlamentares eleitos pelo PSL no Amazonas, o delegado federal Delegado Pablo e o estadual Delegado Péricles. O primeiro, com a Bíblia na mão, era um dos mais concentrados. Ele não acompanhou o presidente na briga contra a direção nacional do partido e não planeja deixar a legenda para seguir Bolsonaro no Aliança Pelo Brasil, o novo partido anunciado pelo mandatário.

Líderes de outras denominações, como o apóstolo Renê Terra Nova, também compareceram à cerimônia, que teve cânticos de louvor, saudações entusiasmadas e gritos de “Mito” da plateia, composta basicamente por membros da Assembleia de Deus e convidados – o auditório comporta cerca de dez mil pessoas.

Ao final da solenidade, ajoelhou-se para receber uma oração, ao lado da esposa.

 

O juiz William Douglas, candidato ao Supremo Tribunal Federal e pregador do culto de hoje

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