Por Ronaldo Derzy Amazonas*
Nunca o refrão de um hino de clube de futebol coube tão apropriadamente e se encaixou de um modo tão perfeito, ainda que tragicamente àqueles que o cantavam e decantavam, como os jovens atletas da formação de base do time carioca vítimas recentes de um crime anunciado ante o descaso das improvisações e do desleixo para com a vida.
A maior e mais profunda tragédia que o clube rubro negro experimentou em cento e vinte e três anos de existência ceifou a vida de dez jovens promessas para o futuro não somente do time carioca mas, do futebol brasileiro.
De tragédia em tragédia, nossos clubes e porque não dizer o futebol brasileiro, vêm sendo atingidos de modo cruel e lamentável trazendo dor, sofrimento, angústia e até revolta aos familiares, torcedores, amantes do futebol e com certeza também a toda a nação brasileira que assiste perplexa a esses episódios repetitivos os quais denotam antes de tudo o desrespeito à vida.
Foi assim no acidente com os jogadores de futebol da Chapecoense onde, a despeito de se economizar combustível para uma viagem, levou-se à morte mais de setenta pessoas entre as quais quase todos os jogadores e dirigentes do time, jornalistas esportivos e tripulação.
Parece, pois ainda carecemos de laudos técnicos, análises abalizadas e confirmações por inquéritos policiais, que essas crianças do time de base do rubro negro carioca morreram num lugar absolutamente inapropriado, repleto de material altamente inflamável e sem as devidas licenças e alvarás de segurança da prefeitura e dos bombeiros pois, somente assistindo às imagens produzidas com câmeras instaladas no local da tragédia, nota-se que há mais que fatalidade e acidente, há sim indícios de muito descaso e de crimes cometidos por quem deveria zelar e proteger aqueles que representam as gerações de futuros craques não somente do clube mas do futebol do Brasil.
Um dormitório improvisado com apenas uma saída, construído com material altamente inflamável e tóxico, sem ventilação e apertado, entre outras aberrações, não poderia levar a outro lugar senão a esse triste e lamentável episódio de morte antecipada de jovens promessas e de dor perene para os familiares.
Não é crível que nosso país, seu povo e especialmente os jovens vivam sob a ameaça constante de desastres, acidentes e episódios criminosos como o da Boite Kiss, das barragens de Mariana e Sobradinho cujas causas estão mais relacionadas à cultura do desleixo e à falta de fiscalização e da aplicação das normas do que com a presença de inocentes nas áreas afetadas.
Não é mais possível que se multipliquem país afora esses tipos de crimes ambientais e sociais onde o jeitinho brasileiro impera e onde os órgãos fiscalizadores negligenciam facilitando a permanência dos erros e com isso levando à perda de vidas e vidas dos mais jovens.
Que os culpados pelas negligências e por tudo o que concorreu para o trágico episódio sejam julgados e punidos diante da lei.
Rogo a Deus consolo para familiares e torcedores do Flamengo e que as portas da Morada Celeste se abram para que esses jovens levem aos céus as alegrias dos seus dribles e gols.
Oremos!
Tè logo!
*O autor é farmacêutico bioquímico e diretor presidente da Fundação Hospital Alfredo da Matta
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