Chega ao fim hoje a mais bem sucedida carreira política de todos os tempos no Amazonas

À meia noite de hoje termina, desta vez definitivamente, segundo ele próprio, a mais bem sucedida carreira de um político amazonense em todos os tempos. Aos 79 anos de idade, Amazonino Armando Mendes retira-se das disputas eleitorais depois de exercer o seu quatro mandato de governador do Amazonas, um recorde absoluto. É verdade que este último foi mais curto – apenas 15 meses -, mas também conquistado nas urnas, assim como os outros três. Apenas a primeira das três gestões na Prefeitura de Manaus aconteceu por indicação do amigo Gilberto Mestrinho, em 1983.

Aliás, Amazonino entrou tarde na política partidária, aos 44 anos. Na juventude, foi militante da União dos Estudantes do Amazonas (UEA), na União dos Estudantes Secundaristas do Amazonas (UESA), na União Nacional dos Estudantes (UNE) e na União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES). Chegou a ser preso por alguns dias durante a ditadura militar. Talvez por causa dos traumas desta época e após o casamento com a também militante Tarcila Negreiros, trocou a política pela carreira empresarial e jurídica, como construtor e advogado. E foi nesta condição que se aproximou e conquistou a confiança de Mestrinho, o grande nome da política amazonense no início no final dos anos 50 e no início dos 80, na redemocratização do país.

O governador que se despede nunca negou a dívida de gratidão com Mestrinho e na semana passada, ao se despedir dos secretários, o tratou literalmente como “pai político”. Os dois viveram entre tapas e beijos desde 1992, quando romperam pela primeira vez. Em 1998 reencontraram-se de novo, e a criatura fez força para fazer do criador senador da República, o último mandato que o “Bôto” exerceu.

Por ironia do destino, Amazonino sai de cena depois de perder apenas pela terceira vez uma eleição, desta vez para um político novo, que está apenas começando a carreira, sem nunca ter exercido sequer um mandato parlamentar antes. Isso depois de protagonizar disputas retumbantes com pesos pesados da política local, como Arthur Virgílio Neto (PSDB) e Eduardo Braga (MDB).

Aliás, o “velho comunista” – expressão usada pelo compositor parintinense Chico da Silva para homenageá-lo na música “Vermelho” – protagonizou três rivalidades homéricas, em épocas distintas, com Arthur – nas décadas de 80 e 90 -, com Eduardo – em vários momentos – e com Serafim Corrêa (PSB), nos anos 2000. Reza a lenda que, com Mestrinho, a “rivalidade” era sempre combinada, por uma questão de sobrevivência da dupla.

Uma busca no Google com o nome Amazonino Mendes tem 288 mil resultados. Nascido em  um garimpo de Eirunepé, nas barrancas do rio Juruá, em 16 de novembro de 1939, filho de Armando de Sousa Mendes e de Francisca Gomes Mendes, ele morou um tempo em Fortaleza, no Ceará, onde estudou no Colégio Castelo Branco, em Fortaleza. De volta ao Amazonas, foi aluno do Colégio Dom Bosco, em Manaus, e cursou o segundo grau no Seminário do Espírito Santo, em Tefé (AM).

A partir de 1983, construiu uma carreira política vitoriosa, que começou no antigo MDB, passou pelo extinto PDC, PFL (depois DEM), PTB e por fim PDT. Nunca foi homem de partido. Sempre se filiou ou desfiliou por conveniência. Quem priva de sua intimidade o considera mais alinhado às ideias da esquerda, mas não hesitou em apoiar Fernando Collor de Melo (então no PRN), na primeira eleição presidencial após a redemocratização, em 1989, e acaba de declarar apoio a Jair Bolsonaro (PSL) no segundo turno da eleição presidencial deste ano, depois de um alinhamento tímido ao candidato de seu partido, Ciro Gomes, no primeiro turno.

AS MARCAS

São vários os episódios e iniciativas que marcaram as quatro gestões de Amazonino como governador e as três como prefeito de Manaus. Do cartão “Direito à Vida” da década de 80 – uma inciativa populista controversa, de muito sucesso, muito antes do Bolsa Família -, à criação do polêmico Terceiro Ciclo, na década de 90. Neste período também lançou a Ação Conjunta com Eduardo Braga, que o sucedeu na Prefeitura de Manaus quando se elegeu para o segundo mandato de governador, em 1994. Foi a mais bem sucedida parceria entre um governador do Estado e um prefeito da capital de que se tem notícia. Apesar das tentativas, jamais foi reeditada depois nos mesmos moldes.

A maior realização do veterano político, aquela que vai ficar para as gerações que ainda virão, é a criação da Universidade do Estado do Amazonas, em 2002, no apagar das luzes de seu terceiro mandato. Nenhuma das inúmeras obras que realizou na capital e no interior jamais superou esta iniciativa, que revolucionou o ensino superior no Estado, abrindo oportunidade para gerações de jovens estudantes em todos os municípios.

Pode-se colocar ainda na sua conta a restauração definitiva do maior monumento histórico do Estado,o Teatro Amazonas; a conclusão das obras da Vila Olímpica, que estavam paralisadas há mais de 20 anos; a construção de bairros populares em Manaus; a criação de um polo graneleiro de Itacoatiara, da Companhia de Gás do Amazonas, para exploração do gás da reserva de Urucu e o asfaltamento do trecho da BR-174, em parceria com o Governo de Roraima e o Governo Federal e a construção do Bumbódromo, que consolidou o Festival Folclórico de Parintins.

Também se destacou pelas polêmicas que criou, até em nível internacional. Foi assim quando os ambientalistas o acusaram de estimular a devastação das florestas ao distribuir gratuitamente motosserras no interior do Estado. Mas em março de 1989, ao receber a visita de senadores norte-americanos para discutir preservação florestal, prometeu ampliar as áreas de reserva ecológica no Amazonas. Em 1989, na Suécia, foi recebido na Academia de Ciências de Estocolmo, na qual discursou apresentando-se como defensor da ecologia e do meio ambiente.

O governador teve seu nome envolvido em dois episódios que por muito pouco não encerram prematuramente sua carreira: a aquisição de um castelo em Portugal, no início dos anos 90, e a construção de uma casa cinematográfica às margens do rio Tarumã, no final de seu terceiro mandato como governador. A primeira história surgiu a partir de uma entrevista do piloto Ayrton Senna a Jô Soares, em que o esportista disse que sonhava em adquirir uma construção histórica em terras portuguesas, mas havia perdido a disputa “para o governador do Amazonas”. O negócio nunca foi confirmado. Já a obra retumbante em Manaus, esta uma realidade comprovada, tornou-se uma pedra no sapato de Amazonino, que por causa da repercussão nunca chegou a desfrutar da edificação, vendida mais tarde a um empresário local.

O ÚLTIMO CAPÍTULO

Quando anunciou que não disputaria a reeleição para prefeito de Manaus, em 2012, quase todo o meio político considerou aquela a sua despedida definitiva das disputas eleitorais, até porque o motivo do afastamento era a saúde. O coração cobrou a conta de uma vida muito desregrada do ponto de vista da alimentação e do tabagismo. Precisou se submeter a um procedimento cirúrgico para desentupir artérias.

Mas no ano passado o senador Omar Aziz (PSD), uma das mais destacadas crias políticas dele, junto com o ex-adversário Arthur Virgílio Neto, foram buscá-lo em seu exílio na casa do Tarumã para disputar o Governo mais uma vez, na eleição suplementar que se seguiu à cassação de outro pupilo, o governador José Melo (PROS). O embate foi uma espécie de tira-teima com o mais bem sucedido de todos os seus herdeiros políticos, Eduardo Braga, a quem já havia vencido em 1998 e de quem perdera em 2006.

Deu certo. Amazonino venceu com folga no segundo turno, reassumiu o Governo e passou a construir um projeto de reeleição, que pecou principalmente por descartar os dois aliados que bancaram seu retorno ao poder.

Mas o “Negão” – apelido que assumiu no terceiro mandato de governador – não sai de cena totalmente derrotado. Segundo levantamento do Tesouro Nacional, vai deixar o Amazonas com a saúde financeira em dia.

Mesmo tendo declarado que não disputará mais nenhum cargo, Amazonino não abandonará a política. “Nasci político, vou morrer político”, declarou. Sinaliza, desta forma, que pretende ainda manter a casa do Tarumã e o novo reduto – um sítio na estrada de Balbina, em Presidente Figueiredo, onde pretende passar a maior parte do tempo a partir de agora – como bases para aconselhamento político das novas gerações, como aliás ocorreu nos cinco anos entre a última retirada e a volta à disputa.

A expectativa agora gira em torno de uma biografia que ele estuda escrever futuramente. Uma história que ele mesmo faz questão de oferecer e agradecer ao povo do Amazonas. “Tem gente que não vai gostar do que vou escrever”, já disse. Ainda assim, o meio político, e principalmente quem gosta da boa a velha polêmica, torce para que ele cumpra esta promessa.

Por enquanto, ainda há quem duvide de sua retirada definitiva e repita o bordão que ele consagrou: “Até breve, Amazonino”.

Qual Sua Opinião? Comente:

Este post tem um comentário

  1. Americo Alencar

    Cresci ouvindo “Ele Rouba mas faz”. Se esse é 0 melhor, não quero nem conhecer o pior.

Deixe uma resposta