Imagine Sócrates caminhando pela praça pública de Atenas — ou melhor, pelo feed infinito de suas redes sociais. Em vez de toga, ele usaria moletom; em vez de pergaminhos, um tablet com notificações constantes. Mas o ritual seria o mesmo: perguntar para que outros pensassem, questionar tudo, desconfiar das verdades fáceis.
Platão estaria no Discord, em seu canal secreto chamado Mundo das Ideias. Explicaria que aquilo que vemos no Instagram, TikTok ou YouTube não passa de sombras da realidade. Uma foto perfeita? Só um filtro mal aplicado da vida. Um influencer famoso? Só a cópia digital de alguém tentando vender status. Platão insistiria: para conhecer a verdade, é preciso buscar além da superfície.
Aristóteles chegaria depois, com sua lógica afiada. “Moderem-se”, diria. “Tudo em excesso — likes, seguidores, comentários — corrompe o julgamento. A vida boa é equilíbrio: nem a ignorância completa, nem a obsessão pelo virtual.” Ele nos lembraria que ética, razão e observação ainda são as ferramentas mais poderosas para lidar com qualquer era, até a digital.
E aí estamos nós, idosos, geração Z, jovens que ainda descobrem o mundo. Alguns de nós se perdem no feed infinito, outros tentam ensinar e aprender simultaneamente. No meio disso, surgem os novos sofistas: algoritmos, inteligências artificiais, influenciadores digitais. Eles não dialogam — persuadem, moldam, moldam opiniões e crenças com a precisão de quem estudou a mente humana como Sócrates estudava a alma.
O perigo é real: quando a população abdica de pensar criticamente, quando troca reflexão por impulso, o poder do conhecimento se concentra nas mãos de poucos. E esses poucos não são necessariamente bons — são eficientes. A história antiga nos ensinou que a persuasão sem ética leva a cidades inteiras a decisões ruins, guerras e injustiças. Hoje, os algoritmos podem fazer isso em escala global.
Mas a boa notícia é que o mesmo aparato que nos manipula também pode nos ensinar. Assim como Sócrates provocava e desafiava, as inteligências artificiais podem questionar, analisar, abrir novas perspectivas. Elas podem se tornar os Sócrates digitais, não os sofistas modernos. Só precisamos escolher como usar.
A ironia é que, apesar de toda tecnologia, as respostas continuam dentro de nós. Pensar, refletir, questionar — essas são habilidades que nem algoritmo, nem like, nem filtro conseguem substituir. Idosos podem ensinar paciência, reflexão e história; a geração Z pode ensinar rapidez, adaptação e inovação. Juntos, podem aprender e ensinar, desconstruindo sofistas digitais e resgatando o hábito perdido de pensar profundamente.
O aprendizado que atravessa milênios permanece: a liberdade de pensamento é o maior poder, mais valiosa que qualquer número de seguidores, mais duradoura que qualquer meme viral. E, se Platão estivesse aqui, sorriria irônico: a revolução não está no digital, está na mente.
Portanto, não se intimide. Questione. Ria da ironia do mundo, mas não abdique do pensamento. Silencie o ruído dos sofistas digitais de vez em quando, e escute o velho Sócrates dentro de você. Pois, no fim, a ágora verdadeira nunca morreu — apenas mudou de endereço.
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