“Um lutador de 70 quilos do Amazonas equivale a um de 90 do Sudeste”, diz Minotauro

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Por Paulo Ricardo Oliveira, de São Paulo – Antônio Rodrigo Nogueira, 40, o Minotauro fará parte do Hall of the Fame do UFC pelo conjunto da obra. A cerimônia de homenagem consta da programação da edição 200 do evento, que acontece neste sábado em Las Vegas, Nevada, EUA.

Minotauro se junta a Royce Gracie até então o único brasileiro a fazer parte do seleto grupo de lutadores que ajudaram a fazer o MMA crescer pelo mundo e a consolidar o Ultimate como uma marca mundial. Entre as estrelas do universo da brutalidade que estão no Hall estão Chuck Liddel, Ken Shamrock, Mark Coleman, Dan Severn e Royce Gracie, dentre outros. “É uma honra estar ao lado de Royce Gracie, um grande ídolo e a quem eu assistia lutar no Ultimate. Eu sempre quis ser um atleta desse evento. Estou feliz e emocionado com a homenagem”, disse o lutador, que alcançou a aura de lenda sobretudo pelos números impressionantes pela marca da superação que esteve sempre presente na vida e na carreira: são 45 lutas em um cartel longevo, quatro títulos em eventos diferentes, entre os quais o extinto Pride, no Japão, e um cinturão interino peso-pesado no UFC. Minotauro foi submetido a ao menos sete cirurgias, de braço, quadril, joelho, ombro, além de sobreviver a um atropelamento por caminhão de mais de oito toneladas, quando tinha 11 anos. Ficou 11 meses internado em hospital e 600 horas em coma. Na entrevista a seguir, concedida com exclusividade ao blog, o atual diretor-executivo de relacionamento do UFC no Brasil e América do Sul faz uma análise da carreira, relembra das lutas mais marcantes, fala sobre seu trabalho de garimpar talentos do MMA no Brasil e assegura que o amazonense é diferenciado nas artes marciais, com força física e habilidade técnica únicas. “O Amazonas é um grande celeiro”. Confira a entrevista.

Blog – O “Hall of the Fame” do UFC simboliza o reconhecimento ao lutador pelo conjunto da obra. Qual a análise que você faz da sua carreira?

Minotauro – Satisfeitíssimo com a contribuição que eu dei para tornar o MMA um dos esportes mais amados do mundo. Foi uma carreira longa, com 45 lutas, uma das mais longevas do MMA brasileiro, campeão do Pride, do UFC, do Rings kings of kings e do World Extreme Fighting, que são dois eventos menores, mas não menos importantes para me consolidar como peso pesado reconhecido. Todos sabem, porém, que não foi fácil. Tive que me superar em vários momentos da vida. Fui atropelado aos 11 anos por um caminhão e tive muitos problemas nos quadris, na coluna, na região pélvica por conta das sequelas, não houve a calcificação. Então eu tive que puxar muito para me superar em vários momentos da carreira e competir em alto nível. Mas tudo valeu. Essa homenagem do maior evento de lutas de todos os tempos, que é o UFC, com meu nome no hall da fama muito me orgulha e emociona. Eu cresci assistindo ao UFC, tendo o Royce Gracie como meu grande ídolo. Então estar ao lado dele no hall da fama deixa bastante feliz e honrado.

Blog – Quais as lutas que mais lhe marcaram na carreira?

Minotauro – A luta contra o Randy Couture, que era então um atleta de altíssimo nível, no UFC 102, foi bem marcante para mim pela grande performance que tive, com dois knockdowns, e várias tentativas de finalizações que o Couture resistiu bravamente. Eu vinha de lesões. Outra luta que marcou minha carreira foi a vitória sobre Brendan Shalb, no Brasil, no UFC 134, com um belo nocaute, vindo de cirurgia, diante da torcida brasileira. No Pride, tive outro momento marcado pela superação contra Bob Sapp, que tinha 150 quilos, um gigante. Foi uma grande virada, quando consegui uma finalização com uma chave de braço. Mas cada luta tem a sua importância na carreira, inclusive as derrotas.

Blog – Os brasileiros parecem que perderam a hegemonia no Ultimate, pois tivemos a perda de vários cinturões em categorias diferentes. Qual sua leitura sobre isso?

Minotauro – Discordo de você, Paulo. O Brasil não perdeu a hegemonia no evento. Só em julho, teremos a disputa de cinco cinturões com brasileiros lutando. Então nós brigamos de igual para igual contra os Estados Unidos pelo domínio do topo mundialmente. É bem verdade que temos no Brasil inteiro menos cinturões que o Estado da Califórnia hoje, mas nos EUA o wrestling, que é a grande força deles no MMA, é ensinado nas escolas públicas e nas faculdades norte-americanas. Então os americanos levam grande vantagem nisso.   Mas não estamos tão mal assim, pois teremos a possibilidade de ganharmos quatro cinturões agora em julho, pois o Rafael dos Anjos vai defender o dele na categoria leve. A Claudia Gadelha tem grandes chances de conquistar o cinturão da categoria palha feminino contra a Joanna Jedrzejczyk, o José Aldo, pode pegar o cinturão interino dos penas contra o Frankie Edgar, enfim, estamos ali na dianteira do Ultimate. A Amanda Nunes tem chances de ganhar da Miesha Tate. Tem o Demian Maia muito bem contado para o topo da categoria meio-médio. Tem Ronaldo Jacaré que a qualquer momento pode disputar o cinturão dos médios. Então as possibilidades para o Brasil são muitas. Não podemos ser pessimistas.

Blog – Dentre as suas atribuições como diretor de relações do UFC no Brasil consta a de garimpar talentos locais da luta. Onde estão esses talentos?

Minotauro – Estão ai nos eventos nacionais e alguns eventos internacionais. Eu gosto muito de observar os eventos internacionais onde já há brasileiros lutando, como o RFA. É como se você pegasse um jogador da Seleção Brasileira que já joga na Europa. Nesses eventos os brasileiros já pegam os americanos com boa base de wrestling, que são bons no jogo de grade, e isso dá mais experiência e confiança para chegarem aos grandes eventos como o UFC. Nós temos um ranking nacional com 30 atletas que estão prontos para substituir os que caírem no UFC. É um ranking de indicação, mas quem escolhe e contrata os lutadores são os matchmakers do Ultimate, como o Joe Silva, que é principal, e o Sam Shelb. Estamos bem atentos aos brasileiros em eventos nacionais e internacionais. De setembro do ano passado até dezembro assistimos a mais de 400 lutas, medimos cartel, medimos mídia social, observamos a agressividade, para chegar a um número mais reduzido ao nosso ranking de indicação.

Blog – Já tivemos a história do Anderson Silva contada em filme e, mais recentemente, um filme sobre José Aldo. Você que sobreviveu ao atropelamento de um caminhão, sofreu tantas lesões e cirurgias, construiu uma aura de lenda no mundo das lutas, não daria um bom roteiro para filme?

Minotauro – (Risos). Tem sempre essa pergunta sobre o filme… Tem uma produtora, Hungry Man, que começou a fazer um documentário no final de 2010 e início de 2011, mas nós tivemos que parar porque o diretor do documentário morreu durante gravações nas Olimpíadas de 2012, em Londres, um cara novo, de 30 anos. Tivemos que parar o documentário, que é um projeto grande, mas retomamos em 2014. Esperamos com fé em Deus lançar esse documentário em 2017. É um documentário sobre superação, mas com histórias boas sobre a minha carreira.

Blog – O UFC já consolidou no Brasil, mas há países da América do Sul, como Argentina, Chile, Colômbia, Equador, Peru, onde o evento ainda não decolou. Por quê?

Minotauro – Assim como no Brasil, o torcedor gosta do esporte, mas ele idolatra o campeão, aquele lutador que lhe represente. Então até construir esse campeão, que puxe a torcida para os eventos, a compra de pay-per-view, a bilheteria, é um processo. Fizemos um The Ultimate Fighter (TUF), que é o reality show, na Argentina, onde tivemos um bom resultados, com somente lutadores da América do Sul. O Chile tem potencial, o Peru é outro grande potencial. A Argentina tem dois excelentes lutadores. O Ultimate tem interesse sim, na América do Sul, já entrou na China, tem interesse na Rússia, mas até a coisa se consolidar, precisamos ter aquele campeão, aquele talento que puxe o evento para o país. É um business. Tem essa questão do retorno comercial.  O UFC já chegou a Irlanda, a Austrália, países que antes não se interessavam pelo esporte.

Blog – Qual a sua impressão sobre os lutadores amazonenses, os que já estão consolidados, e os que ainda são promessas para os grandes eventos?

Minotauro – O amazonense é um cara diferenciado para as artes marciais. Isso é inegável. Temos dois belos exemplos, que são o Ronaldo Jacaré e o José Aldo, atletas de alto nível, com grande apelo de mídia, verdadeiros campeões. Reconhecemos que o amazonense é guerreiro, é forte, é diferenciado na parte física e técnica, principalmente no jiu-jitsu esporte no qual o Amazonas é um grande celeiro. Eu digo que um atleta amazonense de 70 quilos corresponde a um de 90 quilos aqui do sudeste, pela força física, a disposição, o talento técnico. Temos observado com bons olhos essa safra que Coari (a 362 quilômetros de Manaus) revelou para o mundo da luta, com o Francisco De Assim, que despontou como grande campeão do Max Fight, ganhando cinturão no Coliseu, é um rapaz que tem grande potencial. Há o Rodrigo Praia, outro grande nome, o Josiel, o próprio Capoeira, a gente tem vários em Coari, no Amazonas, bem classificados no ranking. Em Manaus, temos o menino do TUF, o Dileno Lopes, que ficou como segundo colocado, já lutando no UFC.

Blog – Muito se fala sobre a realização de um UFC em Manaus, como o José Aldo, Jacaré, o próprio Dileno no card principal. Há chances de isso acontecer?

Minotauro – Eu adoraria que isso acontecesse. Sabemos que Manaus há muita gente de gosta de luta. Creio que seria um sucesso. Mas eu não sou a pessoa mais indicada para garantir ou não que isso aconteça. No meu escritório, a gente trata de outras questões, como a busca de talentos. Eu ficaria muito feliz de ver um evento do UFC no Amazonas, que tem a Arena da Amazônia e um povo muito guerreiro, que gosta de MMA. Mas essa discussão não passa pela minha mesa. Realmente é mais o caso de se discutir com o próprio Dana White.


paulo bombaPaulo Ricardo Oliveira
é jornalista. Trabalhou em quase todos os jornais de Manaus, em campanhas políticas e na direção de jornalismo da Câmara Municipal. Hoje mora em São Paulo, onde faz cursos de especialização em marketing político. Ele editou a sessão de lutas do caderno Craque, do jornal A Crítica, e se aproximou de Minotauro, de quem virou um fâ: “Esse cara pra mim é uma verdadeira lenda. Sempre me atendeu com humildade. E tem história pra contar. Quando eu cobri o primeiro UFC no Brasil, no Rio, eu me apresentei a ele, quando já tava de saída após a luta. Ele mandou parar o carro, saiu e veio me cumprimentar. Há lendas e lendas”, diz Paulo.

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Este post tem 4 comentários

  1. Demostenes

    Vai trabalhar vagabundo, em vez de vender violência.

    1. Anônimo

      Imbecil

    2. Anônimo

      o MMA não e violência e uma esporte se botarmos na balança o futebol e violento vc e um babaca isto sim .

  2. SAMMY DIAS

    Top a entrevista
    Manaus o berço da luta
    Um abraço Paulo Ricardo

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