Tem pato no tucupi…

Por Maurício Andrade*

No dia 27 de maio Nelson Sargento chegou no céu cantarolando “Mangueira teu cenário é um beleza” e foi recebido por Cartola e suas “rosas não falam”; Nelson Cavaquinho e sua poesia maravilhosa – “Em Mangueira quando morre um poeta/ Todos choram/ Vivo tranquilo em Mangueira/ porque Sei que alguém há de chorar quando eu morrer”-  e muitos choraram a perda de mais um poeta do samba, mas lá no céu houve aplausos. Três dias depois foi a vez de alguém chegar no céu cantarolando “tem pato no tucupi, muçuá e tacacá, maniçoba e tucumã, açaí e aluá”. Foi-se Dominguinhos, que não precisou “sair da vida para entrar para a história” (frase histórica de Getúlio Vargas).

Dominguinhos do Estácio é a história do samba. Cantou esse refrão ainda na década de 1970 pela antiga Unidos de São Carlos e consagrou um dos sambas antológicos da historiografia do samba brasileiro; cantou Lamartime em 1981 e “Liberdade, Liberdade” em 1989, samba antológico que no momento em que vivemos deve “abrir as asas sore nós” quando tentam a todo custo ferir a liberdade e impor mais uma vez momentos sombrios; antou “Na Paulicéia desvairada lá vou eu Fazer poemas e cantar minha emoção/ Quero a arte pro meu povo Ser feliz de novo/ E flutuar nas asas da ilusão”. Isso mesmo Dominguinhos cantou Mário de Andrade, ícone da cultura brasileira, que muitos de hoje nem sabe de quem se trata. A todos os pulmões repetia na avenida em 1992 “quero a arte do meu povo”,. E como quero a arte do meu povo, no momento que muitos dizem por ai que cultura não importa;.

Dominguinhos foi da Unidos de São Carlos, foi da Estácio de Sá (s duas se fundem no nome de Dominguinhos do Estácio e do morro de São Carlos). Foi da Imperatriz, foi da Viradouro. Foi do Samba e será sempre o samba. Eterno e para sempre Dominguinhos do Estácio. E lá no céu certamente, os sambistas o receberam cantando “Lá vem o trem do caipira/ Prum dia novo encontrar/ Pela terra corta o mar/Na passarela a girar/ Músicos, atores, escultores Pintores, poetas e compositores/ Expoentes de um grande país/ Mostraram ao mundo o perfil do brasileiro/ Malandro, bonito, sagaz e maneiro/ Que canta e dança, pinta e borda e é feliz/ E assim transformaram os conceitos sociais/ E resgataram pra nossa cultura”.

Dominguinhos, você não fez história; você é a história! Adeus, mestre do canto; adeus. mestre do samba; adeus, mestre da cultura brasileira.

*Sambista e professor