Poupador brasileiro, esse sofredor

Por Ronaldo Derzy Amazonas*

Mais de um ano depois entre infindáveis “negociações” mediadas, vejam bem, pela Advocacia Geral da União e pelo Banco Central em conjunto com o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), a Frente Brasileira dos Poupadores (Febrapo) e a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), vinte longos anos após serem enganados, os pobres e infelizes poupadores brasileiros finalmente vão receber de volta o que lhes foi  surrupiado na edição de três planos econômicos entre os anos de 1987 e 1991 em três governos cujos mandatários continuam aí lépidos e fagueiros prontos para aprontar mais uma com o cidadão de bem.Mas o que mais me causa espanto é que o tal “acordo”, finalmente homologado pelo STF, sim amigos a mais alta corte judicial do país, é de enojar qualquer um posto que mais uma vez beneficia de tal forma os bancos que muitos dos poupadores vão morrer ao longo do tempo antes de verem resgatados seus pequenos recursos os quais foram aplicados na poupança de boa fé duas décadas atrás.

Começa que deixaram de fora um dos planos econômicos do Governo Collor tendo em vista que o STJ pacificou entendimento de que o poupador brasileiro não tinha direito a cobrá-lo.

A partir daí e sobre os demais planos, o tal “acordo” decidiu uma série de condicionantes que somente tendo conhecimento deles  pra gente morrer de raiva ao perceber que mais uma vez os bancos desse país fazem gato e sapato do poupador senão vejamos: 1. Somente terá direito quem recorreu à justiça e por meio de ação coletiva, ou seja, quem o fez individualmente, fiaubabau! 2. A contar do acolhimento do acordo pelo STF, os bancos terão mais 90 dias para identificar os poupadores, mais 60 dias para um tal cadastro e mais 15 dias para iniciar o pagamento; 3.Apenas quem tem até R$ 5 mil pra receber o receberá em única parcela; 4.Para o poupador que tiver direito de receber entre R$ 5 mil e R$ 10 mil o pagamento será parcelado em três vezes; a primeira parcela será à vista e as outras duas, semestrais. 5. Para o poupador que tiver direito de receber mais que R$ 10 mil o pagamento será parcelado em cinco vezes. A primeira parcela será à vista e as outras quatro, semestrais, ou seja, o pobre poupador que suou para aplicar um dinheirinho todo mês, só vai ter a sua grana de volta somente após dois anos.

Mas caro leitor, continue confortavelmente sentado porque o pior do “acordo” ainda está por vir pois olhem só o que o STF referendou para ajudar os bancos: Quem tiver direito de receber entre R$ 5 mil e R$ 10 mil haverá um desconto de 8% sobre o valor; quem tiver direito de receber de R$ 10 mil a R$ 20 mil terá um desconto de 14% sobre o valor; quem tiver direito de receber mais de R$ 20 mil perderá 19% sobre o valor. Isso é uma piada pronta!

Os bancos terão ainda um prazo de três anos para pagar os poupadores  após a homologação do acordo.

Para completar essa notícia tragicômica pasmem leitores! o tal “acordo” ainda normatiza uma tabelinha cronológica de nascimento dos aplicadores que vai desde antes de 1928 até após 1964 onde fica definido que o pagamento aos indigitados poupadores será feito por lotes e começará pelos mais velhos (por óbvio) e até chegar aos mais novos desde que todos os anteriores já tenham recebido. Pelamordi! esse STF é um pai pra esses bancos!

Porém, triste mesmo é a situação dos herdeiros e inventariantes dos poupadores já falecidos os quais só verão mesmo a cor do dinheiro no último lote e após todos os anteriores estiverem recebido. É mais ou menos assim: o cabra suou pra fazer uma poupança , vieram os governos e confiscaram, ele entrou na justiça, morreu, deixou a poupança como herança, seus sucessores têm direito a receber, estes vão amargar uma longa espera e podem igualmente morrer sem antes verem a cor da grana. Me poupem!

Percebam o quanto de desprotegido está e sempre esteve o cidadão brasileiro especialmente nas suas relações de consumidor  com a máquina poderosa dos bancos, das grandes empresas comerciais e industriais, de aviação, operadoras de telefonia, de planos e saúde, etc. porque quem poderia lhes dar guarida nas horas de maior necessidade, está sempre do lado mais forte. Ainda não é o fim!

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