Operação Constantino, da Polícia Federal, aproxima-se do núcleo do poder político do Amazonas

Pouca gente atentou para a profundidade da Operação Constantino, deflagrada ontem pela Polícia Federal, que prendeu quatro pessoas no Amazonas, entre elas o empresário José Adamir Monteiro, pai de José Monteiro, ex-sócio do poderoso José Lopes. Mais uma vez o foco são as invasões de terra (as famosas grilagens) que pertencem à União no interior do Amazonas e a prática de crimes ambientais, como desmatamento e extração ilegais de madeira. Mas os tentáculos se estendem ao envolvimento destas pessoas com o meio político amazonense. O grupo que se estabeleceu em Boca do Acre e Lábrea, no sul do Estado, com grandes criações de gado e enormes fazendas, financia as principais campanhas políticas locais há pelo menos três décadas.

A Polícia Federal mira o grupo empresarial há pelo menos dois anos. Descobriu várias operações ilegais deles e está mapeando a rota do dinheiro dessa organização criminosa. Para se ter uma ideia da importância dada a esta nova fase, foram usados aproximadamente 100 policiais federais para prender quatro pessoas preventivamente e cumprir 22 Mandados de Busca e Apreensão, nas cidades de Rio Branco/AC, Manaus/AM e Boca do Acre/AM.

Form alvos das medidas judiciais as fazendas do grupo localizadas nos municípios de Lábrea/AM e Boca do Acre/AM. As ordens judiciais foram expedidas pela 7ª Vara Federal Ambiental e Agrária da Seção Judiciária do Amazonas. A pedido da Polícia Federal, o Poder Judiciário determinou o sequestro de bens dos investigados em cerca de R$ 17 milhões.

Segundo as investigações, a organização criminosa contava com a participação de servidores públicos do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) do Amazonas, que atuavam no sentido de “esquentar” essas terras no acervo patrimonial dos criminosos integrantes do esquema.

As investigações apuraram que a organização criminosa invadiu e se apropriou de mais de nove mil hectares de terras pertencentes à União, sendo que nestas foi identificada ação de desmatamento que atingiu aproximadamente 4.000 hectares.

O nome da operação faz referência a um fato histórico: no ano 315 o então imperador romano Constantino divulgou um édito imperial para legitimar a doação de vastas áreas de terra na Europa Ocidental à Igreja Católica, conquistando assim a lealdade de seus dirigentes. Vários especialistas em história da humanidade são unânimes em afirmar que o documento nunca possuiu nenhum grau de autenticidade. Da mesma forma agora, a organização criminosa valeu-se de falsas escrituras para se apossar das terras, com o beneplácito de autoridades.

Qual Sua Opinião? Comente:

Deixe uma resposta