Principal pivô do maior escândalo de compra de votos no Amazonas, na campanha de reeleição do atual governador José Melo (PROS) em 2014, a empresária Nair Blair reapareceu nesta quinta-feira, 22, para anunciar que foi vítima de uma “armação política”, sem dar nome aos bois. Fazendo-se de vítima  e dizendo que passou por um processo de estresse profundo, sofreu constantes ameaças de morte e duas tentativas de sequestros (não apresentou nenhum boletim de ocorrência), ela disse que, quando foi presa, havia R$ 14,6 mil em sua bolsa “e quando a Polícia Federal me devolveu havia apenas R$ 7,6 mil”.

Nair, que passou os últimos dois anos longe dos holofotes da mídia porque, segundo ela, tinha um acordo neste sentido com a Justiça Eleitoral, disse que quando foi detida pela Polícia Federal, em setembro de 2014, estava no banheiro de uma igreja no bairro Aleixo, zona Centro-Sul, em oração com um pastor (não informou o nome). “Quando fui presa haviam R$ 14,6 mil na minha bolsa e quando a PF me devolveu havia apenas R$ 7,6 mil”, disse.

N o processo em curso no Tribunal Superior Eleitoral, Nair diz que o dinheiro encontrado em seu poder que era para pagar passagem para Bélgica, comprada horas antes da sua prisão. Sé que ela não apresentou o bilhete, não estava de posse de bagagem, nem tinha moedas do destino.

À imprensa, Nair negou veementemente que assinou recibos ou pagou, por exemplo, baile de formatura em troca de votos para a campanha de José Melo e garantiu que foi obrigada a assinar um termo de confissão de crime, documento que a empresa exibiu durante a coletiva. “Esses documentos (recibos) foram forjados. Vou provar que tudo não passou de uma armação”, reafirmou Nair Blair.

Na coletiva, ela distribuiu aos jornalistas copias do Oficio nº 320/14, assinado pelo então secretário de Segurança Pública, Paulo Roberto Vital, atestando todos os serviços prestados na área da tecnologia da informação no período da Copa do Mundo pela Agência Nacional de Segurança e Defesa (ASN&D), uma ONG de propriedade dela, ao Governo do Amazonas.

O Tribunal Regional Eleitoral concluiu pela irregularidade do contrato firmado pela OBG dirigida por ela e o governo estadual. A Carta Proposta no valor de R$ 1 milhão é de 12 de junho de 2014, dois dias apenas antes do primeiro jogo da Copa em Manaus. O Projeto básico é de do dia 20.  Portanto, a proposta foi feita antes da Copa, mas o Projeto básico foi apresentado após a abertura.

A autorização da SEFAZ ocorreu em 24/6/2014, sendo que  o último jogo da copa 25/6/2014. O Relatório de Acompanhamento “in loco” é de 13/8/2014,  20 dias após o último jogo.  E foi assinado somente por militares que nãotinham qualificação técnica para fazê-lo, e sem identificar qualquer funcionário da ANS&D que tenha trabalhado em seu objeto. O Tribunal concluiu que a contratação da empresa foi fictícia. Nenhuma defesa apresentou qualquer documento (recibo, notas fiscais, filmagens produzidas pelo nominado (monitoramento móvel),  para comprovar a realização dos serviços.

A entrevista coletiva foi realizada no luxuoso Blue Tree Hotel, no bairro Adrianópolis, zona Centro-Sul. Nela, Nair anunciou que destituiu o advogado Aniello Aufieiro, um dos mais conhecidos do Amazonas, porque não estava satisfeita com ele, e disse que a partir de agora contratou um escritório paulista para provar à Justiça Eleitoral ela não  cometeu crime de compra de votos na campanha de José Melo.

Ao lado do novo advogado Samuel Lima e do assessor de imprensa Sérgio Murillo, contratados em São Paulo, Nair justificou que, só reapareceu agora, dois anos depois da operação da Polícia Federal e sete meses após ser presa pela PF, para não quebrar um ‘acordo’ com a Justiça Eleitoral do Amazonas, que a obrigava a não comentar com a imprensa o conteúdo do processo de acusação.

Citando indiretamente o blog, ela afirmou que estava doente e só decidiu comparecer a coletiva porque “foi especulado na mídia que eu não viria”.

Curiosamente, está para ser julgado no Tribunal Superior Eleitoral o recurso do governador José Melo contra a cassação de seu mandato.