Nacional chega aos 106 anos emocionando gerações de torcedores

Duas gerações. Dois momentos e somente uma paixão: Nacional Futebol Clube. O médico Francisco Marcelino Malheiros, 77, e a estudante Laícy Melo Alencar, 7, compartilharam um momento inusitado no Centro de Treinamento Barbosa Filho, na semana que antecedeu o 106º aniversário do clube, comemorado neste dia 13 de janeiro.

De um lado, um médico conceituado, especialista em medicina do trabalho e esportiva, coordenador da Comissão de Antidoping da CBF e, do outro, o olhar, a doçura e a inocência de uma criança. Juntos, os dois se emocionaram ao homenagear o Naça e, principalmente, ao revelarem o que o clube representa em suas vidas.

Malheiros é figura reconhecida no futebol amazonense. Por muitos anos exerceu o cargo de médico do Naça e conta como chegou ao clube: “Cheguei ao Nacional com 15 anos. Eu era jogador, um ponta esquerda. Era dedicado. Essa chance que tive, eu devo ao Barbosa Filho. Não tinha vício de bebida nem fumava, jogava muita pelada. Lembro que na época eu morava na Major Gabriel e ia a pé para a Vila Municipal, carregando minha chuteira de borracha, com os pregos no solo, bem batidos para não machucar. Depois do treino, cansado, voltada andando novamente e feliz. Felicidade mesmo era quando o Barbosa Filho nos dava a passagem do ônibus. Eu ia a pé e aproveitava o dinheiro para comprar pão doce e refresco de maracujá”, relembra sorrindo.

Na base, Malheiros disse que em cinco anos foi quatro vezes campeão. Era o capitão da equipe, segundo ele, porque gritava mais que jogava. Laícy ouve tudo atenta, se divertindo com a história que, com certeza, trouxe a lembrança algum momento engraçado de sua infância. A pequena torcedora aproveitou e também revelou como se tornou nacionalina. Esperta, ela guarda até o ano do seu primeiro contato com as cores do Mais Querido.

“Foi em 2013. Minha mãe conta que eu tinha quatro anos de idade. Fomos escondidas do meu pai, mas eu gostei tanto da alegria, do jogo, dos gols que eu pedi para ela ligar e eu tive que contar aquilo para ele. Eu estava muito feliz… Então, sou nacionalina”, afirmou.

Desde o primeiro contato com o Naça, muita coisa aconteceu. Com Malheiros, a mudança começou quando ele foi aprovado no curso de medicina na Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e teve que deixar a carreira de jogador. Dedicou-se aos estudos, mas nunca abandonou o esporte, tanto que, quando ainda estava no quinto período do curso, foi convidado pelo presidente do Naça para ser médico do Leão. Era o começo de uma carreira brilhante, que mudou os rumos da medicina esportiva no estado, tanto que ele foi um dos fundadores da Sociedade de Medicina Esportiva do Amazonas.

Como médico de clube, além do Nacional, ele também atuou no Rio Negro, um dos maiores rivais do Leão.

“Fui médico do Rio Negro por duas vezes, mas nunca escondi que minha casa era aqui. Você contrata o profissional, mas nunca o torcedor. Eu visto azul, o sangue e o coração também são azuis”, garante.

No caso da Laícy, antes dela ser apresentada ao Naça pela sua mãe, também teve a primeira experiência com futebol ao vestir uma camisa do Flamengo, pois o pai torce para o time carioca. Ela não lembra com muitos detalhes. Outro fato foi sua passagem pela escolinha de futebol do Manaus FC, clube do qual seu padrasto é o goleiro titular, Jonathan Queiroz.

“Eu era muito bebê e meu pai me vestia de Flamengo, eu não lembro, mas vejo as fotos. No Manaus, eu fui em algumas aulas. Eu treinava como goleira (risos), não sei muita coisa. É muito legal, divertido, mesmo eu não sabendo muito pegar a bola”, brinca. “Eu posso ir morar até na Suíça, onde minha avó mora e eu sempre vou vestir minha camisa do Naça. Eu gosto do azul, me faz lembrar a alegria da nossa torcida e os gols do nosso time”, destaca.

Perguntado qual a maior emoção que o clube lhe trouxe, Malheiros não hesita e coloca para fora todos os seus mais de 60 anos de Nacional: “São tantos títulos, tantas alegrias que é quase impossível destacar somente um, mas quando o Maneca conquistou o hexacampeonato, a gente dizia para ele: ‘Rapaz, tu tens que deixar títulos para os outros’”, brinca.

Os títulos aos quais Malheiros se refere foram conquistas entre 1976 a 1981, ano em que grandes estrelas que foram reconhecidas a nível nacional, defendiam as cores do Mais Querido como, Campos Pedrilho, Toninho Cerezzo e Paulo Izidoro. Alguns destes jogadores foram campeões brasileiros, em 1977, com o São Paulo-SP.

Laícy, apesar da pouca idade, já teve a oportunidade de presenciar alguns momentos importantes no Nacional FC. No primeiro jogo em que ela foi assistir, o Naça encarou o Coritiba-PR, pela Copa do Brasil. Naquele mesmo ano, o Leão avançou até às oitavas da competição nacional, o único clube amazonense a chegar nesta fase.

Em 2014, conseguiu o épico 42º título estadual sobre o Princesa do Solimões, vencendo o rival por 5 a 1, após perder de 2 a 0 no jogo de ida. No ano seguinte, sagrou-se novamente campeão do estadual, desta vez entrando para a história do futebol local. É o maior campeão do Barezão, com 43 títulos, alcançou a marca de 15 vitórias consecutivas e foi o primeiro clube amazonense a levantar a taça na imponente Arena da Amazônia Vivaldo Lima.

Desde o 43º título estadual, o clube não conseguiu alcançar bons números, no entanto, a sua torcida faz jus ao trecho do seu hino “tua torcida estará sempre ao teu lado” e nunca o abandonou.

Malheiros e Laícy foram questionados sobre o que o Nacional Futebol Clube significa para eles. Cada um respondeu a sua maneira. A pequena torcedora, sorriu, pegou um troféu e disse: “Título, alegria, futebol … Eu lembro da minha mãe”, uma forma de agradecimento por sua genitora ter lhe apresentando ao seu clube de coração.

Se por um lado a Laícy declarou seu amor em palavras, Malheiros resumiu: “Tenho minha nação e o Nacional é a metade…”, o médico levou as mãos ao rosto e não segurou a emoção. Veio às lágrimas e abraçou o futuro do Nacional, a torcedora mirim.

Nos seus 106 anos de história, o Nacional Futebol Clube já emocionou e continua arrancando risos e lágrimas de amazonenses e outros que aprenderam a amar este clube.

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