Melo ataca Arthur e Braga, “cutuca” Omar, admite proximidade com Marcelo e usa palavras chulas para definir o próprio governo

O governador José Melo decidiu sair da toca definitivamente. Primeiro, começou a inaugurar as poucas obras que tocou até aqui. Depois, passou a frequentar solenidades públicas, como não vinha fazendo há pelo menos seis meses. E hoje foi a um programa de rádio e colocou-se a atacar adversários como o prefeito reeleito Arthur Neto e o senador Eduardo Braga, esquivando-se dos problemas de seu governo e até usando um linguajar xulo para definir certas situações. De quebra, criticou o aliado Omar Aziz, a quem chamou indiretamente de “covarde” e admitiu a proximidade com Marcelo Ramos, negada ao longo de toda a campanha para prefeito.

A tática da dissimulação está sendo usada pelo governador com muita insistência. Ele agora finge estar brigado com o senador Omar Aziz, que na verdade é o seu candidato ao governo em 2018. Disse que o aliado foi “injusto”. “Quando comecei a adotar medidas impopulares, ele se afastou de mim”, reclamou, insinuando certa covardia do aliado.

Aparentemente ainda magoado com a derrota eleitoral de outubro, Melo destilou veneno contra o prefeito Arthur Neto, esquecendo totalmente que este foi um dos principais, senão o principal, responsável pela sua reeleição, em 2014. Num misto de ingratidão e verborragia, tentou desqualificar a gestão do tucano. Ameaçou inclusive tomar da Prefeitura a gestão do abastecimento de água em Manaus, um sucesso comprovado – foi na atual administração que a maior parte dos problemas das zonas Norte e Leste foram resolvidas.

Acusado de crimes eleitorais em 26 processos que correm na Justiça Eleitoral e já cassado em um deles pelo Tribunal Regional Eleitoral, Melo tentou desqualificar a vitória de Arthur, dizendo que nunca viu “tanto crime eleitoral como na última eleição.” O curioso é que não há sequer uma denúncia transformada em processo contra o tucano no TRE.

Confirmando o ditado popular, que dizer ser “mais fácil pegar um mentiroso do que um cocho”, o governador ainda admitiu que estava envolvido na campanha de Marcelo Ramos, ao dizer que já relacionou para o próprio candidato derrotado, em encontros após a eleição, quais os principais erros cometidos por ele. Ele repetiu que a eleição foi perdida por causa dos erros “do lado de cá”, deixando claro que Marcelo era o seu candidato. Os dois continuam muito bem afinados.

Questionado sobre a operação “Maus Caminhos”, que revelou um enorme esquema de desvio de verbas públicas em seu governo, Melo disse que “o pecado do Governo foi falhar, não ter o controle e o acompanhamento do processo.” E garantiu que está criando “uma nova Superintendência da Saúde (Susam), capaz de controlar e fiscalizar melhor o setor”. Só não explicou como pretende fazer isso mantendo sem nenhuma alteração a mesma cúpula que permitiu os desmandos, capitaneada pelo secretário Pedro Elias, um “intocável” do governo.

Sobre o Caso Afeam, onde são investigados desvios de recursos públicos, Melo admitiu que faz um governo “leso” – aliás, usou a mesma palavra para definir os problemas que teve na Saúde. “A leseira da Afeam foi aplicar R$ 20 milhões sem ficar atento à empresa envolvida”, afirmou. Ao contrário do que ocorreu na Susam, o governador tirou a diretoria do órgão e promete fazer nova eleição para os cargos de direção. Mas negou-se a responder se o presidente Evandor Gebes voltaria ou não à presidência.

Mesmo que organismos de controle acusem o governo Melo de ser um dos menos transparentes do país, o governador usa uma palavra chula  para tentar passar  a impressão de que pratica a transparência. Segundo ele, o Portal da Transparência do Governo do Estado é “arreganhado”.

Apesar de cutucar Omar – prática de caso pensado, provavelmente orientada por marqueteiros para favorecer a campanha do senador ao governo e afastá-lo da impopularidade de Melo -, o governador cumpre direitinho um roteiro que vem sendo traçado nos bastidores, com vistas a 2018. Tenta tirar o governo da letargia, briga intensamente em Brasília para não ter a cassação confirmada e incentiva Marcelo Ramos a bater forte em Arthur na internet, para não permitir que o prefeito toque sua administração com tranquilidade e apareça novamente como capaz de influir decisivamente sobre as rumos da eleição estadual.

A estratégia está nas ruas. Só não vê quem não quer.

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