Melhor prevenir do que remediar

Por Ronaldo Derzy Amazonas*

Minha linda mãe do alto de suas mais de nove décadas de abençoada e profícua existência, repetia essa frase como mantra, nos aconselhando diante de uma situação de doença ou para resolver um problema pessoal ou familiar onde a prevenção vem bem antes do tratamento.

Nem bem nosso país se levantou da queda provocada pela epidemia do Zika vírus e suas graves consequências sobre a saúde e a vida das crianças que nasceram com microcefalia objeto de um artigo meu no início do ano passado, e já nos deparamos com talvez uma das mais complexas situações de risco epidêmico provocada por uma das mais graves e letais doenças virais que é a Febre Amarela.

Que malária que nada! Esqueçamos o HIV! Deixemos pra lá à Tuberculose! pois essas doenças igualmente epidêmicas porém com muitíssimo menor taxa de letalidade, bem ou mal, têm lá suas formas definidas de combate, seus tratamentos adequados e toda uma rede de atenção, cuidados e profilaxia.

Nesse momento, urge que as autoridades sanitárias em todos os níveis de governo inclusive a OPAS e a OMS, direcionem suas baterias, recursos humanos, inteligência e verbas, imediatamente para as áreas mais vulneráveis especialmente no Sudeste e em parte do Nordeste, do Centro Oeste e do Sul, onde a cobertura vacinal é precária e onde há super concentração de população.

Nós, da Região Norte, por questões óbvias, estamos em permanente controle e atualizaçao vacinal  porém, tudo o que agora está acontecendo em outras partes do país nos servem de alerta para que não abramos a guarda para mais uma doença cujo maior perigo é a urbanização (ainda que para isso dependamos de multifatores epidemiológicos, ambientais e sazonais) porém, tudo o que pode acontecer vai acontecer e, se as autoridades de saúde locais não aplicarem a máxima de que -é melhor prevenir do que remediar-, poderemos embarcar em mais uma tragédia sanitária ainda no seu nascedouro. A seguir, extraio de uma publicação de uma revista semanal, algumas perguntas e respostas essenciais para que algumas dúvidas que ainda pairam sejam dissipadas sobre a Febre Amarela:

Há dois tipos de febre amarela, a silvestre e a urbana. Qual é a diferença entre elas?

A silvestre é disseminada pelos mosquitos Haemagogus e Sabethes, circulantes em matas, e não em cidades. A versão urbana é transmitida pelo Aedes aegypti, o mesmo da dengue, do zika e da chikungunya. Não há registro de febre amarela urbana no Brasil desde 1942. As mortes de agora foram causadas pela versão silvestre, unicamente.

Existe a possibilidade dos mosquistos Haemagogus e Sabethes irem para a área urbana?

Não. Os mosquitos Haemagogus e Sabethes são de gêneros diferentes, mas tem comportamentos parecidos. Eles vivem em áreas de florestas densas, com vegetação abundante. Voam alto e geralmente ficam na copa das árvores. Sua fonte principal de alimentação é o sangue dos macacos que estão lá em cima. Ou seja, estão totalmente adaptados a hábitos silvestres que não vão encontrar na cidade.

Por que a versão urbana é um problema?

Porque seu potencial de disseminação é grande, na medida em que circularia nas cidades, em meio a um número muito maior de pessoas.

O macaco pode transmitir febre amarela?

Não. A febre amarela não é uma doença contagiosa, por isso sua transmissão não é feita de animal para animal, tampouco de animal para humanos nem entre humanos. A única forma de transmissão é pela picada de mosquitos infectados.

Qual é o papel de primatas na transmissão?

Primatas podem se contaminar com o vírus, exercendo também o papel de hospedeiros. Se picados, os animais transmitem o vírus para o mosquito, aumentando, assim, os riscos de propagação da doença.

Se uma pessoa que foi infectada com febre amarela em uma área silvestre estiver no centro de São Paulo e for picada por um mosquito urbano, o Aedes aegypti, esse mosquito contrai o vírus e passa a espalhar a doença?

Sim e esse seria o início do ciclo urbano da doença. A febre amarela urbana acontece justamente quando o Aedes aegypti pica uma pessoa doente e depois pica outra pessoa susceptível, transmitindo a doença. Exatamente como acontece com a dengue, zika e chikungunya. Por isso é importante que todas as pessoas que moram ou frequentam áreas de risco se vacinem.

Quem precisa tomar a vacina?

O Ministério da Saúde recomenda a vacinação em crianças a partir de 9 meses de idade (6 meses em áreas endêmicas) e pessoas que moram próximo a áreas de risco.

Quem não deve tomar a vacina?

Crianças com menos de 6 meses não devem tomar a vacina sob hipótese nenhuma. Mães que estão amamentando crianças nessa idade também devem evitar se imunizar. Caso seja necessária a vacinação, o ideal é ficar dez dias sem amamentar o bebê. Em crianças entre 6 e 9 meses de idade, a vacinação só deverá ser realizada mediante indicação médica. A mesma recomendação vale para gestantes. Pacientes imunodeprimidos, como pessoas em tratamento quimioterápico, radioterápico, com aids ou que tomam corticoides em doses elevadas e pessoas com alergia grave a ovo também não devem se vacinar.

Já sou vacinado. Preciso repetir a dose?

Não. Desde o início de 2017, o Brasil segue a recomendação da OMS de uma única dose. Ou seja, adultos vacinados não precisam repeti-la. Estudos científicos demonstram que apenas uma dose é suficiente para que o organismo continue com anticorpos o resto da vida.

Como funciona a vacina fracionada?

Na vacina fracionada, uma única dose de 0,5 ml será utilizada em cinco pessoas, o equivalente a 0,1 ml por pessoa.

A vacina fracionada será aplicada no país inteiro?

Não. Por enquanto a recomendação é apenas para alguns municípios dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia, regiões que não tinham recomendação para a vacina e onde a maior parte da população não está imunizada.

Qualquer pessoa pode tomar a dose fracionada?

Não. Os seguintes grupos devem continuar a receber a dose integral: crianças de 9 meses até 2 anos de idade e pessoas condições clínicas especiais como HIV/aids (mediante recomendação médica), doenças hematológicas ou após término de quimioterapia. Pessoas que vão viajar para países que exigem o certificado internacional de vacinação também devem receber a dose integral. Basta acessar o site da Anvisa para saber quais países têm essa exigência.

Quem tomou a vacina fracionada, deverá repetir a dose?

Sim. Ao contrário da dose padrão, a fracionada tem validade de oito anos, de acordo com o Ministério da Saúde. Quem tomou a dose fracionada e tem viagem marcada para algum dos 135 países que existem o certificado internacional de vacinação precisará tomar a dose padrão mesmo que o intervalo entre as doses seja inferior a oito anos. Isso é necessário porque o certificado internacional não é concedido pela Anvisa a quem toma a dose fracionada. Lembrando que deve haver intervalo de pelo menos trinta dias entre cada dose, por se tratar de uma vacina com vírus vivo.

Por que o governo decidiu usar doses fracionadas?

Para fazer uma ação rápida de vacinação e bloquear o avanço do vírus, diante de um estoque limitado de vacinas.

Como saber qual dose – integral ou fracionada – foi aplicada?

O tipo de vacina deverá ser informado pelo agente de saúde. O selo do comprovante de vacinação também será diferente para a dose fracionada.

Quais são as reações possíveis à vacina?

Os efeitos colaterais graves são raros. Mas 5% da população pode desenvolver sintomas como febre, dor de cabeça e dor muscular de cinco a dez dias. Não é frequente a ocorrência de reações no local da aplicação.

Quem tem maior risco de evento adverso relacionado à vacina da febre amarela?

Crianças menores de 6 meses, idosos, gestantes, imunodeprimidos, mulheres que estão amamentando e pessoas com alergia grave à proteína do ovo.

Não encontrei a vacina em postos ou nas clínicas, mas moro em área urbana. Qual o risco de não me vacinar?

Baixo. Quem mora em áreas distantes dos locais com transmissão mais constante da infecção e não frequenta esses lugares pode esperar até a situação se normalizar para se vacinar. A prioridade é imunizar pessoas que vivem ou visitam essas regiões. Mas é possível se proteger com medidas simples, como o uso adequado de repelente que consiste em reaplica-lo a cada 4 horas e nunca passar protetor solar por cima.

Moro perto de um parque. Corro mais risco?

Não, a menos que esse parque tenha a presença de macacos.

A febre amarela é uma doença fatal?

Se houver diagnóstico precoce, não. De 40% a 50% dos casos podem evoluir para a forma grave da doença. Nestes, em 30% a 40% a doença pode ser fatal.

Quais são os sintomas da febre amarela?

Cerca de 35% das pessoas infectadas apresentam sintomas semelhantes aos de um resfriado, como dor de cabeça, febre, perda de apetite e dores musculares, três dias depois de terem sido picadas pelo mosquito. Após essa fase, 35% desenvolverão a forma grave da doença, com sintomas severos, como dor abdominal, falta de ar, vômito e urina escura. O restante não apresenta sintomas.

É possível contrair a doença mais de uma vez?

Não. Quem já foi infectado está imune para sempre, diferentemente do que ocorre com a dengue.

Qual é o tratamento para a febre amarela?

Não há um tratamento específico para febre amarela. A medida mais eficaz é a vacinação, para evitar a contaminação da doença.

Como se proteger contra a doença?

O ideal é tomar a vacina, mas para aqueles que não podem tomar o imunizante ou que estão no período de dez dias após a aplicação, a melhor forma de prevenção é evitar a picada do mosquito. Algumas formas de colocar isso em prática são: usar repelente, aplicar o protetor solar antes do repelente, evitar áreas silvestres (se possível), vestir roupas compridas e claras, usar mosqueteiros e telas e evitar perfume em áreas de mata

Qualquer repelente funciona contra o mosquito?

Não. No Brasil, são mais de 120 com registro na Anvisa, mas somente os que contêm alguma das seguintes substâncias têm garantia de eficácia: DEET, IR3535 e icaridina. Vitamina do complexo B não tem efeito comprovado contra o mosquito.

Como e onde emitir um Certificado Internacional de Vacinação que registre a imunidade permanente para quem já tomou uma dose?

Para obter o Certificado Internacional de Vacinação emitido pela Anvisa basta levar o comprovante de vacinação a qualquer centro credenciado.(Fonte Revista Veja)

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*O autor é farmacêutico e empresário