“Acidente não terminou…Mariana é o desastre ambiental mais grave que o Brasil já teve”
(Izabela Teixeira – Ministra do Meio Ambiente in FSP-25/11).
No meu artigo de estreia aqui neste espaço, tratei de comparar duas figuras conhecidas Francisco, o Papa, e José, o governador.
Bem, comparar não é o termo apropriado posto que não há parâmetros para tal.
Referido artigo, abordava sem qualquer pretensão sócio teológica, entre outras coisas, a encíclica papal denominada Laudato sii (Louvado sejas) que trata de forma magistral sobre meio ambiente e sustentabilidade e chama a atenção das autoridades, entidades e especialmente dos cristãos católicos, para o cuidado com a natureza, seres humanos no meio, dádiva divina.
Tratei sobre as enchentes e a forma irresponsável como o governo do estado, sem planejamento, sem um plano de execução e sem uma estratégia apropriada, ano após ano, tenta resolver essa problemática cíclica, cujas respostas às necessidades do povo ribeirinho são desastrosas e nada definitivas, ora cortando milhares de árvores para construir passarelas e marombas, ora distribuindo ranchos, roupas, colchões, medicamentos e hipoclorito e, com essas medidas paliativas, estabelecendo uma geração de seres dependentes de governos e de governantes e criando um vínculo interminável cujas cobrança e pagamento se darão na próxima eleição.
E o que há de comum entre essa situação que ocorre nos nossos quintais e a tragédia de Mariana em MG? Respondo, tudo a ver!
Em ambos os casos estão presentes o sofrimento humano, a destruição da natureza, a perda de bens e de vidas, o descaso do estado que deveria proteger e a ganância das empresas. Ou seja, a tragédia não é só ambiental, é social.
Aqui, embora a enchente seja um fenômeno natural, estudos comprovam que cada vez mais a mão humana agindo na destruição de ecossistemas, promove a elevação do clima e consequentemente, do degelo dos Andes que eleva a cota dos nossos rios, e lógico somado a outras determinantes naturais. Logo logo estará provado que a contenção de grandes rios para construção de hidrelétricas, promoverá outras tragédias por meio de enchentes, como se já não fosse suficiente a alagação de milhões de hectares de florestas durante a formação dos lagos das barragens.
Diferentemente, a tragédia de Mariana tem as mãos e os pés humanos a promovê-la daí não ser considerado como um fenômeno natural; nem fatalidade há de se chamar.
Ali, naquelas vilas e povoados mineiros, o que se assiste é a tradução mais completa do descaso governamental, da ineficiência dos organismos de controle ambiental aliada à busca pelo lucro incessante e desumano por parte das empresas mineradoras.
Assisti um prefeito de uma cidade chamada Rio Doce já no estado do ES e distante a 800 km de Mariana dizendo: – Porquê que a dona Maria e o seo Francisco meus munícipes, têm que pagar por esse descaso de uma empresa lá de longe? Completando num desabafo quase lamento: – Quero que tirem esse lixo do nosso rio pois esse lixo não nos pertence.
Já se sabe que a SAMARCO, braço da Vale, diante da queda abrupta dos preços do minério de ferro no mercado internacional, acelerou, do ano passado pra cá, a produção em mais 30% para compensar a queda no faturamento da empresa, e com isso, produziu mais e mais rejeito os quais foram depositados numa barragem que embora comportasse o excedente não foi capaz de suportar a velocidade de deposição e como conseqüência a decantação da massa de rejeito, posto que o volume de água de lavagem era 3x maior que o suportável pela barragem, ou seja, uma tragédia mais que previsível sob o olhar contemplativo das autoridades ambientais, IBAMA no meio, e dos Ministério Públicos estadual e federal.
O que se assiste ou melhor o que a mídia reproduz de notícias sobre essa tragédia ofuscada que foi também pelos acontecimentos internacionais, retrata de longe o quadro real e, mais apagadas ainda, são as informações sobre os desdobramentos desse desastre sobre os rios, oceano, flora, fauna e populações adjacentes. Daqui há algumas décadas teremos real dimensão dos malefícios produzidos por essa ocorrência aí, haveremos de lembrar dos ensinamentos do Papa na sua encíclica e lamentaremos pela morte dos rios, dos peixes, dos animais das florestas e da perda de vidas humanas pela fome e pelas doenças. Portanto, são inimagináveis as consequências e os impactos negativos que tudo isso causará futuramente.
Não dá pra encerrar esse artigo sem cobrar das autoridades competentes pela punição dos culpados. Não dá pra passar batido a incúria e a inércia dos organismos ambientais do Brasil especialmente o Ministério do Meio Ambiente e o IBAMA que vivem literalmente correndo atrás das tragédias e dos desastres quando estes já ocorreram e já não há quase nada a se fazer, pois a simples aplicação de bilhões em multas não vão refazer a natureza tampouco ressarcir os prejuízos físicos, emocionais, materiais e morais de uma gente que vivia pacificamente de esperar o tempo passar ao canto do sabiá e das batidas das águas nas pedras do Rio Doce. Choremos por Mariana.
Té logo!
Sds Ronaldo Derzy Amazonas
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