Mais democracia, é disso que precisamos

Por Celso Cursino*

O Brasil passa por um momento crucial na sua cambaleante democracia, lembro da célebre frase de Alfred Emanuel Smith, todos os males da democracia se podem curar com mais democracia.

Neste artigo estarei dialogando com a obra “Como as democracias morrem” de Levitsky & Ziblatt, Zahar 2018, não se trata de um resumo nem resenha da obra, apenas de um diálogo, extraindo dela, alguns insights para refletirmos sobre a nossa democracia.

Levitsky & Ziblatt, alertam: não são precisos golpes de estado para minar uma democracia, esse processo pode e muitas vezes começa com uma polarização extrema por sorte da própria população do país.

O Brasil passa por uma polarização jamais vista, não é uma polarização espontânea de ideias para o bem do país, o que está acontecendo no Brasil é um sectarismo fomentado por dois grupos políticos bem estruturados, um grupo representado por um ex-presidente e outro grupo pelo atual presidente, ambos os grupos fomentam divisões na sociedade jogando uns contra os outros e se apossam de ideologias anacrônicas, mas que servem muito bem para atrair as massas. No livro “Como as democracias morrem” (Levistky e Ziblat), os autores avaliam os riscos à democracia americana sob o governo de Donald Trump, na obra os autores citam a fábula do Cavalo, o Javali e o caçador (Esopo), a fábula conta que o cavalo estava muito indignado com o Javali por sujar a água da fonte onde ele saciava a sede, cheio de ódio, o cavalo pediu ajuda ao caçador para matar o javali, de pronto este o atendeu, mas colocou algumas pré-condições, como selar o cavalo, colocar-lhe um freio na boca e montá-lo, o cavalo consentiu. Após a destruição do javali, o cavalo quis livrar-se do caçador, ao que este respondeu: não amigo, só matei esta besta porque queria sua carne e pele, agora você é meu. O cavalo passou a lamentar: Burro de mim! Os incômodos que me causava o pobre javali não era nada comparados com isso! Por dar valor demais a um assunto sem importância terminei sendo escravo!

A fábula do cavalo e do javali termina por nos dar uma noção como agem parte do eleitorado brasileiro, estão brigando entre si e por fim ficam reféns do esperto da ocasião. Identifico esses espertos em meu livro “A saga das raposas” como raposas da política, essas raposas são seres evoluídos na arte de enganar os humanos.

Para a casta política, o sectarismo é extremamente útil, transformam os eleitores em meros instrumentos para facilitar o domínio e dificultar a entrada de novos postulantes na arena política.

A democracia pressupõe educação

Não há a mínima possibilidade de o Brasil ser um país rico, enquanto a população brasileira não obtiver educação política, e essa educação precisa ser procurada pela sociedade, o dominador, não tem o mínimo interesse que você adquira conhecimento político e até dificultará, esse papel cabe a nós, precisamos buscar a educação política como uma necessidade de auto preservação. Através de meus artigos provoco os leitores a essa busca, somente o conhecimento nos dará a base para entender como se dá o jogo, mais que isso, precisamos conversar e planejar saídas da dominação raposina.

NÃO SE ILUDA A SAÍDA É PELA POLÍTICA

Precisamos defender nossas instituições e melhorá-las, a saída não está na revolva, na indiferença, muito menos na polarização sectária, esta só é útil aos dominadores, para aprofundar nossa democracia, precisamos agir de maneira unida, o diálogo entre os eleitores é essencial, relembro aqui, nós enquanto eleitores não temos dialogado, o voto é a ferramenta a ser usada de maneira estratégica e combinada. Defendo que os eleitores, através de diálogos, crie um padrão sobre como votar, para podermos organizadamente, utilizá-lo contra as reeleições, contra o carreirismo político, contra o filhotismo e a favor da renovação, amparada em novos princípios, quais deverão ser esses novos princípios? Redução dos políticos, assessores e verbas de gabinete em 50% e a limitação das reeleições, não a permitindo para cargos executivos e somente uma para os cargos legislativos. Essas ideias podem ser melhoradas e atualizadas, devem sempre ser simples, poucas e focadas para não perdemos o rumo. Basta fazermos e exigirmos, através do voto, nosso voto precisa estar carregado de uma expressa intenção.

ALERTA

Na obra com a qual dialogo neste artigo, Steven Levitsky & Daniel Ziblatt alertam: “a democracia atualmente não termina com uma ruptura violenta nos moldes de uma revolução ou de um golpe militar; agora, a escalada do autoritarismo se dá com o enfraquecimento lento e constante de instituições críticas – como o judiciário e a imprensa – e a erosão gradual de normas políticas de longa data.” Esta obra escrita em 2018, voltada para a realidade americana, demonstra assustadoramente tudo que está acontecendo no Brasil, enfraquecimento e desmoralização de instituições como exército, polícia, impressa, igrejas e partidos, sem dúvida que os partidos é um dos mais importantes pilares da democracia e no Brasil eles estão dominados pela casta política, dificilmente, alguém que defende a boa política terá espaço nos partidos, até mesmo o fundão eleitoral – dinheiro público – é usado sem critérios pelos partidos. As direções partidárias, entrega este dinheiro, público, para os políticos que quem quiserem, é algo assustador, a sociedade não se interessa e permite que seu dinheiro seja tratado assim.

Levitsky e Ziblatt apontam quatro indicadores para se identificar tendências antidemocráticas.

· Rejeição das regras democráticas do jogo. Lembremos que no Brasil, aumenta por parte do atual governo, questionamentos sobre STF, o STF e outras instituições devem ser melhoras, mas não é esses o caso para a casta política, o interesse deles é apenas capturar a vontade de mudança da população e usá-la para seus fins;

· Negação da legitimidade dos oponentes políticos: Aumenta-se a difamação dos oponentes e destruição de reputações, novamente vejo que se captura o anseio do povo por mudança, distorce esse anseio e usa de forma estratégica para outros fins. Essa distorção e uso da vontade do povo acontece porque a população não está organizada, não tem força para impor mudança, daí fica nas mãos de salvadores que manipulam essa vontade.

· Tolerância ou encorajamento à violência. Veladamente o apoio a violência policial ou de seus grupos de apoiadores é incentivada, isso acontece de todos os lados, os grupos mais vulneráveis aderem a esses dominadores, supondo estar ajudando o país.

· Propensão a restringir liberdades civis de oponentes. Tenta-se domesticar a mídia e atacar aqueles que não se enquadram nas suas ideologias, tais ataques virulentos, encontra espaço fértil nas redes sociais, xingamentos são distribuídos gratuitamente pelos comandados dos “caçadores”.

Acrescento dois outros elementos muito uteis aos dominadores. 1- O uso da religião. Passar por amigo dos maiores grupos religiosos e quem sabe até pensar num batismo em alguma religião para criar uma liga com esses grupos, funciona muito bem. 2- As redes sociais são de extrema importância, as pessoas vivem isoladas pelos muros, as discussões não acontecem mais face a face, as redes sociais são hoje o mais privilegiado espaço para as fofocas, através de fofocas pode se destruir pessoas, então os dominadores criam mecanismos que alavancam e instrumentalizam as redes sociais através de seus fãs, mesmo que sejam grupos pequenos, trabalhando organizadamente, direcionados pelo freio do caçador, provocam grandes efeitos.