Amigos irmãos e amigas irmãs, escrevo para vocês com o coração apertado de indignações e de preocupação com a vida da juventude e com a democracia em nosso Amazonas, pois eu prefiro ficar “com a luta sofrida do povo que quer ter voz, ter vez e lugar”, do que me omitir.
Quero refletir sobre o julgo pesado que estão fazendo com nosso irmão Hinaldo Castro que é um leigo atuante da comunidade Nossa Senhora da Conceição da Área Missionária São Pedro (Setor 9), membro da Pastoral da Juventude.
Sim, falo do jovem que é líder do movimento social Levante Popular da Juventude e fez aquela manifestação no dia 1º de fevereiro contra o senhor José Melo, governador do Amazonas cassado. Há quem ande falando, entre nós irmãos cristãos católicos, que esse jovem é um marginal, um criminoso. Isso me entristece o coração. Amanhã começaremos mais um tempo quaresmal, tempo de mudanças, de conversão, e ver esse julgo pesado sobre esse nosso jovem irmão me fez refletir: será que Jesus Cristo também não foi marginal?
Socorro-me do Evangelho de são João (a passagem está em todos evangelhos, mas preferi o trecho de João capítulo 2, versículos de 13 a 17). Essa passagem é conhecida nossa, com toda a certeza. Jesus entra no templo e vê a corrupção instalada através do poder econômico se revolta, faz um chicote, expulsa os vendedores e põe pra fora os animais que comercializavam. Jesus mostra-se extremamente indignado e usa de força para acabar com aquele erro. O Ato não fora então uma manifestação pública de um marginal? Já faz tempo que deixei de ter só aquela visão romântica de Jesus Cristo. Ele era uma pessoa esclarecida e politizada sim. Ele então foi considerado, pelo poder religioso (Sinédrio), um agitador . Esse foi o estopim. O poder religioso corrompido pelo econômico e político planeja a morte do Filho de Deus.
Me pergunto: dar chicotadas, virar as mesas jogar as moedas no chão, foi o quê nesse sentido? Crime? Subversão? Atitude de marginal? Ou a manifestação de uma pessoa que não aguentava ver mais tanta corrupção? Hinaldo não estaria fazendo a mesma coisa ao se manifestar daquela forma irreverente, típico da juventude? Por que meus amigos e irmãos dizer que o ato foi violento, eu discordo totalmente. O que foi arremessado? Papel, pedaços de papel. E a distância? Acredito que mais de 3m de distância. Jogado com enorme força? Não, jogado para o alto. Então em meu ver cai a teoria da agressão. Mas alguns de nossos irmãos estão falando em ” e se fosse uma arma, se fosse uma faca, se fosse um ovo ou um tomate, se fosse…”, bem acontece que não foi. Então não podemos especular sobre um fato consumado, o arremessado foi papel. Eu creio que a formação do nosso irmão Hinaldo não o permitiria usar de atos violentos que causasse lesão corporal em alguém.
Jesus de Nazaré nasceu à margem, por isso, Ele era sim um “marginal”. Isso mesmo, boa parte da missão de Jesus é realizada à margem, nas periferias com o povo pobre e sofredor. Todas as vezes que Jesus vai ao centro tem conflito com os fariseus, saduceus, com os romanos, ou seja, com os poderosos. Sim nesse sentido com certeza absoluta, Ele era um marginal.
Já que estamos refletindo sobre a expulsão dos vendedores do templo de Jerusalém, protagonizada por Jesus, vamos então mais a fundo na prisão e paixão do Mestre de Nazaré (sim da periferia, pois a Galileia era a periferia daquela nação. Só por ser da periferia já era rotulado de marginal ou perigoso?). Vamos nos colocar naquele contexto e aí eu me pergunto: seríamos nós Pilatos que lavou as mãos? Ou o Sinédrio que julgou e condenou? Ou seríamos o povo feitos de massa de manobra nas mãos dos poderosos? Ou seríamos nós o discípulo que nega? Ou o que foge? Ou o que é fiel até o fim?
Confesso que a tristeza bate o coração, pois vejo muitos de nossos irmãos julgando e condenando como fez o Sinédrio. Outros lavando as mãos não querendo se comprometer em defender a vida de um jovem e o direito democrático de se manifestar. Outros covardemente fugindo do assunto como se não conhecêssemos quem está sendo julgado de forma injusta. Tem alguns até que querem negar que o jovem é cristão católico. Também tem quem seja levado pela mídia (inclusive daquela que vive das verbas de publicidade do poder público) virando pura massa de manobra. Mas eu quero me juntar aos inúmeros irmãos e irmãs que estão firmes na defesa do direito à manifestação e na defesa da vida da juventude.
Para mim está muito claro a farsa política que está posta: tentar desviar a atenção da sociedade do maior crime que já foi julgado e dito pela maioria dos magistrados (5×1) da corte eleitoral que alegam nunca ter visto tanta fartura de provas. Publicaram a sentença que é a cassação do mandato. A farsa traz a tentativa desmedida de tratar como crime organizado aquela manifestação. Um enorme exagero, colocando outro leigo católico atuante em defesa dos direitos humanos e das políticas públicas, (o leigo José Ricardo que ora está deputado estadual e seus assessores), como a “mente do mal” que organizou e patrocinou o ato. Alguns dizem que foi a mando de um adversário do atual governador. Quem acompanha esse nosso irmão sabe que ele sempre foi oposição a esse ex-governador (Braga) “adversário” do atual, então como estaria agindo a mando dele? Toda essa farsa parece que está ligada ao fato dele está sendo apontado como pré-candidato a prefeitura de Manaus. Iremos ter uma campanha tão baixa esse ano? Deus nos livre disso!
Quero finalizar dizendo que sou solidário com ambos irmãos leigos cristãos católicos, Hinaldo e José Ricardo. Não quero ser do Sinédrio, não quero ser comerciante do tempo, não quero ser discípulo que nega e nem que foge, muito menos àquele que lava as mãos. Não sou massa de manobra. Quero ser solidário aos “marginais” que levantam sua voz contra os poderosos e que lutam pela justiça e a libertação do povo, pois “se calarem a voz dos profetas, as pedras falarão”.
Aos meus irmãos e irmãs que são apegados aos poderosos eu rogo a Virgem Mãe que foi até o final fiel junto ao “Marginal” de Nazaré que toque nesses corações que estão fechados à misericórdia e também à libertação do poder político, econômico e religioso.
Amém! Aleluia!
EDNEY MANAUARA Militante e Assessor da Pastoral da Juventude da Paróquia São Geraldo Manaus/AM, 09 de fevereiro de 2016.
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Este post tem um comentário
De maneira nenhuma, Jesus era marginal, ele só queria e fazia o bem às pessoas, mas o Hinaldo é mais que iosso, além de não respeitar as pessoas é um meliante