J. Aquino: símbolo de um tempo

Por Daniel Melo*

Recebi com consternação a noticia do falecimento do cantor, radialista, ex  vereador e ex deputado, José Costa De Aquino, o J Aquino, ou “Carrapeta”, como era conhecido. Convivi com ele no final dos anos 1970, na radio Baré, quando eu participava do programa do também saudoso Clodoaldo Guerra. Ao me ver, sorridente ele dizia: “olha aí, este é o meu filho”, o que confesso, as vezes me deixava chateado.

Carrapeta viveu a fase áurea do rádio amazonense. A Rádio Baré tinha no seu “cast” nomes como David Rocha, Clodoaldo Guerra, Chico Santos, dirigidos pelo lendário Epaminondas Baraúna. Era o tempo dos diários associados; tempo em que o radio era diversão, serviço e informação de grande qualidade. As equipes esportivas cobriam os clubes locais e eram famosas as resenhas do meio-dia.

J Aquino também foi político. Era uma época onde não havia mordomias; não havia tanta corrupção. M D B X Arena, lei Falcão, retrato de candidato na tv de preto e branco. Lembro dos nomes que ecoavam: Belo Ferreira, Idel Ferreira, Manoel Diz, Natanael Bentes, Rafael Faraco, José Dutra, Francisco Guedes De Queiroz. Carrapeta era o Folclórico, mas nem por isso deixava de ser combativo em sua jornada parlamentar!

E o J. Aquino cantor? Pelas manhãs, meu saudoso pai acordava cedo e ligava o radio para ouvir as primeiras noticias. Então soava aquela voz analasada a cantar “Santo Antonio obrigado, obrigado por me dar aquele amor”. Meu pai dizia que “Carrapeta” começou a cantar nos meados dos anos 1950,participando dos comícios do Plínio Coelho, no qual também se destacavam a cantora Katia Maria e o inesquecível peteleco, criação de Oscarino Varjão.

  1. Aquino se foi. Foi-se um pouco da Manaus bucólica e de seus personagens marcantes. Não há mas o costume de se ouvir rádio pela manha; já não se torce mais  pelos nossos clubes; já não se conversa mas nas calçadas, já não se tomam mais banhos nos igarapés.

Enfim: os que continuam por aqui, teimosamente insistem em viver nesta tormenta que se transformou nessa cidade enlouquecida. Eu só vivo porque tenho Jesus!

*O autor é pedagogo e pastor da Igreja de Deus Pentecostal do Brasil

 

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