Filas na Caixa Econômica podem levar a morte

O número de contaminados pelo novo coronavírus (Covid-19) no Amazonas chegou nesta terça-feira a 4.337 e 351 óbitos. Mesmo assim, em dia de pagamento de Auxílio emergencial, multidões estão se aglomerando em filas enormes nas agências da Caixa da Econômica Federal (CEF) e nas lotéricas do estado, tanto na capital quanto em cidades do interior. Mas o fenômeno parece ocorrer em todo Brasil, conforme divulgados por jornais de todo o país.

O Auxílio Emergencial é um benefício financeiro proposto e defendido pelos parlamentares de esquerda da Câmara dos Deputados e aprovado pelo Congresso Nacional, que varia entre R$ 600 a R$1.200. É destinado aos trabalhadores informais, microempreendedores individuais (MEI), autônomos e desempregados, e tem por objetivo fornecer proteção emergencial no período de enfrentamento à crise causada pela pandemia. Eu apresentei um projeto, que foi agregado à proposta final, para que o pagamento fosse no valor de um salário mínimo. Já a proposta do Governo Bolsonaro era pagar somente R$200.

Com meu voto e apoio, a Câmara Federal aprovou no último dia 16, a ampliação do auxílio emergencial de R$ 600 para novas categorias de beneficiários. Agora, motoristas de aplicativos, agricultores familiares, artistas artesanais, taxistas, assentados da reforma agrária, catadores de materiais recicláveis, caminhoneiros e muitos outros trabalhadores também terão direito ao benefício. Estou também apoiando e defendo o projeto da deputada Gleisi Hoffmann, presidenta nacional do Partido do Trabalhadores, que ampliará de três para 12 meses o tempo de duração do Auxílio Emergencial.

Mas o que preocupa é o grande número de pessoas nas sedes da Caixa nos últimos dias. Quem procura esses locais são pessoas desempregadas, jovens trabalhadores informais, pais de famílias sem trabalho e donas de casas sem renda que, apesar do medo de se contaminarem com o coronavírus, se arriscam em filas nos postos da CEF para tentar retirar o auxílio ou resolver alguma pendência no cadastro para o recebimento do recurso, e com isso comprar alimentos para o sustento de suas famílias.

No interior do estado a situação é ainda pior. Tem municípios que não possuem sede da Caixa Econômica, o que obriga as pessoas a procurarem as lotéricas na tentativa de resolver os problemas ocasionados pela falta de inoperância no sistema, causando grandes aglomerações. Isso seria facilmente resolvido se o Bradesco, que existe em todo o interior do Amazonas, assumisse essa tarefa de efetuar o repasse do Auxílio Emergencial aos beneficiários.

Tem também muita gente passando a noite nas filas para garantir atendimento. E o mesmo está acontecendo nas sedes da Receita Federal em algumas cidades brasileiras. Um grande número de contribuintes estão se aglomerando em busca da regularização do CPF para poder ter acesso aos R$ 600 de Auxílio Emergencial.

Além disso, vários beneficiários denunciaram que há falhas no sistema da Caixa Econômica. Dificuldades para realização do cadastro e a indisponibilidade do aplicativo criado para viabilizar o acesso dos brasileiros o código para liberação do recursos contribuem ainda mais com a necessidade das pessoas de se aglomerarem em uma agência da CEF para tentar resolver o problema.

Essa situação é gravíssima e desumana, em meio à pandemia do novo coronavírus (Covid-19) enfrentada pelo país e o mundo. Aglomerações de pessoas é o ambiente ideal para contaminação e proliferação do vírus. E vai na contramão das medidas de prevenção da doença, determinada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que defende o isolamento social. Além de colocar em risco a vida das pessoas, em função desse vírus letal que já causou a morte de mais de cinco mil pessoas somente no Brasil.

Tem gente que desconhece a realidade do povo pobre e diz que a culpa dessa aglomeração é da população que “adora fila” e que se “desespera” sem motivo. Não é verdade. A população tem fome. Está apenas está ocorrendo atrás de seus sustento. Como dizia o Betinho: “quem tem fome, tem pressa”.

A responsabilidade por todos esse caos é do Governo Bolsonaro que, contrariado com a decisão do Congresso Nacional de aumentar o valor do auxílio, demorou mais de 15 dias para iniciar os procedimentos necessários para o pagamento e sem nenhum planejamento. Além de não se preocupar com aqueles que mais precisam nesse período de calamidade pública, Bolsonaro continua minimizando os efeitos da Covid-19. A Caixa Econômica também é responsável por esse transtorno, já que coloca em risco a vida da população ao deixar de adotar medidas de segurança para os usuários e funcionários.

Para ele, a doença é apenas uma “gripezinha” e tenta flexibilizar o isolamento social. E ainda incentiva a população a quebrar o isolamento social para ir às ruas em manifestação, participando de atos públicos.

Cabe ao Governo Federal buscar soluções que facilitem e resguardem a vida do povo brasileiro. Falta competência ao governo para planejar e propor estratégia de organização na distribuição de renda. Mas falta principalmente compaixão pela vida das pessoas mais pobres, que sempre são as mais atingidas em momentos de crises.

Eliminar as filas e aglomerações é um problema fácil de se resolver. Bastava apenas o Governo Federal enviar para a residência dos beneficiários um cartão de débito para aquisição de materiais básicos de subsistência. Como também disponibilizar saques em dinheiro nos terminais de bancos 24 horas e de bancos públicos, que hoje são instalados em vários locais da cidade, inclusive em pequenos estabelecimentos comerciais.

É preciso mais empatia e vontade política para resolver o problema da população pobre do país. Atitude que falta no atual Governo Brasileiro.

*O autor é economista e deputado federal pelo PT