Entre caetanalhices e caetanadas

Por Ronaldo Derzy Amazonas*

Há quem o julgue um bom cantor, outros um notório compositor e até alguns que o coloquem como um dos artistas a merecer o panteão da glória  das celebridades do cancioneiro nacional.

Eu, nunca o classifiquei no rol das minhas preferências musicais ou autorais posto que cultivo um reservadíssimo gosto musical onde não se incluem canções cujas inspirações dependeram e dependem ainda hoje, mais das baforadas e dos ambientes esfumaçados pelo culto ao cigarro proibido, porém, não rechaço quem goste de tal espécime da fauna musical pátria.
Pois bem, o sobredito artista que há trinta anos atrás foi o autor(como antigamente se dizia de quem havia deflorado uma moça) de uma jovem que contava à época com tenros 13 anos de idade ainda que com o conhecimento(deferente de consentimento) dos pais o que hoje pela Lei considerar-se-ia como estupro de vulnerável, recentemente se envolveu noutra querela não menos bizarra.
Entre canalhices e pernadas, o venerando intérprete(?) e compositor chegado a um gracioso patrocínio público por meio da famigerada Lei Rouanet(espécie de norma robinhoodiana às avessas que tira grana de pobre pra encher a pança de ricos), aliado ao que de mais atrasado há em termos de movimento que prega o esbulho e a invasão de propriedade pública e privada, foi terminantemente proibido pela justiça de prestar culto e animação por meio de um show em um espaço particular tomado por invasores incentivados por instituições atreladas a partidos políticos dominados por ideias e ideais os quais funcionam à margem da lei e da ordem como se no Brasil não houvesse espaços e programas que atendessem às necessidades de quem precisa de terra e moradia.
Certa vez, Rui Barbosa num de seus célebres artigos demonstrando  desilusão e contrariedade pelos rumos que a política brasileira tomava, usou algumas expressões as quais até hoje podem muito bem ser empregadas a muitos e muitas que enveredam pelos caminhos tortuosos da má aplicação da política na sua mais completa (e salutar) tradução, como tentou fazer o renomado compositor de Sampa:”Não é esse jogo da intriga, da inveja e da incapacidade, entre nós se deu a alcunha de politicagem. Esta palavra não traduz ainda todo o desprezo do objeto significado. Não há dúvida de que rima bem com criadagem e parolagem, afilhadagem e ladroagem. Mas não tem o mesmo vigor de expressão que os seus consoantes. Quem lhe dará o batismo adequado? Politiquice? Politiquismo? Politicaria? Politicalha? Neste último, sim, o sufixo pejorativo queima como ferrete, e desperta ao ouvido uma consonância elucidativa.

Política e politicalha não se confundem, não se parecem, não se relacionam uma com a outra. Antes se negam, se excluem, se repulsam mutuamente.A política é a arte de gerir o Estado, segundo princípios definidos, regras morais, leis escritas, ou tradições respeitáveis.
A politicalha é a indústria de explorar o benefício de interesses pessoais. Constitui a política uma função, ou um conjunto de funções do organismo nacional: é o exercício normal das forças de uma nação consciente e senhora de si. A politicalha, pelo contrário, é o envenenamento crônico dos povos negligentes e viciosos pela contaminação de parasitas inexoráveis. A política é a higiene dos países moralmente sadios. A politicalha, a malária dos povos de moralidade estragada.(Rui Barbosa).

Pois é, entre politicalhas e politiquices e entre canalhices e pernadas ainda assistimos uns e outros por aí dando plena razão ao Águia de Haia.
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*O autor é farmacêutico e empresário