“Nunca tinha trabalhado, o estágio foi meu primeiro trabalho. E gostei muito, me senti acolhida. Me identifiquei com a profissão de defensor”. É assim que a estudante de Direito, Maria Necy Bentes Brazão, de 27 anos, define sua experiência como estagiária da Defensoria Pública do Estado do Amazonas (DPE-AM), no projeto Nosso Coração Também é Azul. Destinado a pessoas com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), o projeto lançou na terça-feira (20/04) edital para mais um processo seletivo de estágio. A abertura da seleção ocorre no Abril Azul, dedicado a dar visibilidade a essa comunidade que busca maior inclusão na sociedade.
O processo seletivo é destinado ao preenchimento de quatro vagas de estágio para nível superior, em unidades da DPE-AM previamente selecionadas após processo de capacitação. A bolsa de estágio é no valor de R$ 946,20. O edital está disponível no Diário Oficial Eletrônico (DOE) da Defensoria. O objetivo do estágio oferecido por meio do Nosso Coração Também é Azul é proporcionar a inclusão, a máxima autonomia e a acessibilidade a pessoas como Maria Necy, estudante do 5º período do curso de Direito que estagiou na Defensoria Pública dos Direitos Humanos, entre fevereiro de 2020 e janeiro de 2021.
“No começo, o estágio era presencial, e eu fazia atendimento aos assistidos. Mesmo tendo dificuldade de socialização, eu conseguia com o apoio dos outros que trabalhavam lá. Os assuntos também, as atividades desenvolvidas para os assistidos, eram algo que eu gostava, e acabei tendo um hiperfoco no assunto. Apesar de no começo ter tido algumas dificuldades, consegui superá-las, pois estava me sentindo tão bem em estar fazendo algo e ser útil. Também fazia declarações, ofícios, peças, entre outros. Depois, por causa da pandemia, o estágio passou a ser em home office”, comenta Maria Necy.
De acordo com o edital, poderão concorrer às vagas de estágio os estudantes que estiverem cursando a partir do 2º ano de qualquer curso superior. O estágio terá duração de seis meses, podendo ser prorrogado até o limite de 12 meses.
Para Maria Necy, a sociedade ainda está carente de projetos de inclusão de pessoas com TEA. “Porque a maior parte das pessoas ainda não sabe o que é autismo, não sabe que tem níveis, que cada autista é único, e nós, autistas, só precisamos de uma oportunidade para mostrar que somos capazes. Já sofri muito preconceito quando procurei emprego. As pessoas acham que eu não sou capaz, e sei que tem outros autistas que se sentem assim como eu. Muitas vezes o autista pode demorar um pouco para se sentir bem e criar uma rotina no ambiente de trabalho, mas depois que isso acontece podemos perfeitamente trabalhar”, afirma a estudante.
Inscrições
As inscrições são gratuitas e podem ser feitas por meio da Escola Superior da Defensoria Pública (Esudpam), pelo e-mail esudpam@defensoria.am.
Processo de seleção
A seleção dos candidatos será feita pela Esudpam e por equipe multiprofissional, em um processo de duas etapas. Na primeira, será realizada a pré-seleção e análise de currículo. Serão levadas em consideração, primeiramente, as potencialidades dos candidatos, seguida de análise do currículo, bem como será avaliado o tempo de experiência e compatibilidade com as atividades da Defensoria. No caso de não haver inscritos com esta experiência, será considerado o tempo de experiência em projetos de extensão e/ou pesquisa da respectiva faculdade, bem como as especificidades da atividade a ser exercida pelo estagiário.
Na segunda etapa, será realizada uma entrevista. Os candidatos pré-selecionados serão convocados, eles e seus pais ou responsáveis, de forma virtual pelo googlemeet, com datas pré-agendadas para o período de 5 a 7 de maio de 2021, conforme edital de convocação a ser publicado após o fim do prazo de inscrições.
Sonho
Maria Necy agora está estagiando no Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM) e sonha em se tornar defensora pública. “Vi que o defensor ajuda os assistidos e tem uma interação com eles. Eu gostei disso. Mesmo sendo autista e tendo um pouco de dificuldade de interagir, gosto muito de qualquer assunto relacionado a Direito, principalmente quando é para ajudar pessoas mais vulneráveis. Eu me sentia feliz lá, quando estagiava, e já decidi que vou estudar bastante quando terminar a faculdade para prestar concurso para a Defensoria. Sei que vai demorar um pouco, mas eu vou conseguir”, afirmou.
Iniciativa
O projeto Nosso Coração Também é Azul foi idealizado e lançado em 2019, pela coordenadora de Programas e Projetos da Defensoria, defensora pública Flávia Lopes, falecida em abril de 2020. Inspirado em uma iniciativa semelhante da Defensoria Pública da Bahia, o projeto da DPE-AM é inédito no Brasil por criar uma equipe multiprofissional destinada a selecionar os candidatos a estágio.
Com o Nosso Coração Também é Azul, a DPE-AM foi destaque no III Congresso de Atuação Interdisciplinar nas Defensorias Públicas do País, realizado nos dias 28 a 30 de agosto de 2019. O projeto foi apresentado na mesa que debateu “Articulações interdisciplinares”, com a participação da defensora Flávia Lopes, que foi acompanhada pela psicóloga Luciana Alencar Peixoto, também do órgão.
FOTO: Clóvis Miranda
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