CUNHA VERSUS SEVERINO

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João Cabral de Melo Neto, diplomata e escritor pernambucano, falecido em 9 de outubro de 1999, é o autor de Morte e Vida Severina, um clássico da literatura brasileira publicado pela primeira vez em 1966, embora tenha sido escrito entre 1954 e 1955. O livro traz um poema dramático, escrito em versos curtos, sobre a trajetória de um migrante nordestino que vai em busca de condições de vida no litoral em virtude da seca no sertão.

No título, o nome próprio Severina é usado como adjetivo, como se poderá perceber nos versos abaixo.

O meu nome é Severino, // como não tenho outro de pia.

Como há muitos Severinos, // que é santo de romaria,

deram então de me chamar // Severino de Maria

como há muitos Severinos // com mães chamadas Maria,

fiquei sendo o da Maria // do finado Zacarias. (…)

 

(…) Somos muitos Severinos // iguais em tudo na vida:

na mesma cabeça grande // que a custo é que se equilibra,

no mesmo ventre crescido // sobre as mesmas pernas finas

e iguais também porque o sangue, // que usamos tem pouca tinta.

E se somos Severinos // iguais em tudo na vida,

morremos de morte igual, // mesma morte severina:

que é a morte de que se morre // de velhice antes dos trinta,

de emboscada antes dos vinte // de fome um pouco por dia

(de fraqueza e de doença // é que a morte Severina

ataca em qualquer idade, // e até gente não nascida).

Severino Cavalcanti (PP), deputado federal do baixo clero, concorreu em 2005 à Presidência da Câmara de Deputados e venceu de modo inusitado o candidato oficial do governo do então presidente Lula (PT). Em 3 de setembro daquele ano duas revistas publicaram denúncias de um suposto esquema em que o deputado cobrava R$10 mil reais mensais de um empresário que detinha uma concessão de um restaurante nas dependências do Legislativo. Mensalinho – uma referência ao escândalo mensalão – foi o nome dado ao esquema de propinas recebidas pelo deputado do Partido Progressista, que suportou apenas 19 (dezenove) dias de pressão no cargo. E no dia 21 de setembro, o pernambucano Severino Cavalcanti (PP) renunciou ao mandato de deputado federal para fugir de um processo de cassação.

Hoje, o peemedebista Eduardo Cunha, atual Presidente da Câmara, é alvo de uma investigação que já apontou que ele recebeu R$ 9,6 milhões, em contas na Suíça, desviados de um contrato da Petrobras no Benin, na África. O dinheiro não foi declarado. E ainda falta saber a origem de outros recursos, cerca de R$ 20 milhões, e por que o peemedebista Eduardo Cunha recebeu esse dinheiro.

O ministro Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki decidiu sequestrar e bloquear os recursos das contas na Suíça onde o deputado peemedebista figura como controlador.

Ao que tudo indica, o Partido do Movimento Democrático Brasileiro – PMDB, deve possuir algum tipo de vacina que imuniza seus parlamentares contra a morte Severina que ataca em qualquer idade e até gente não nascida. Visto que somente um tal Fernando Baiano, preso desde dezembro de 2014, dito operador do esquema de corrupção do partidão, talvez por ser nordestino, embora não se chame Severino, tornou-se até então a única vítima da morte Severina nas fileiras do PMDB.

Fazemos voto de que assim como na obra de João Cabral de Melo Neto, no cenário político, seja Severino do PT ou do PMDB, todos tenham a mesma sina, morte e vida severina.

Nilmar Oliveira, mestre e doutorando em Economia pela Universidade Católica de Brasília, foi a grande surpresa da eleição de 2014, obtendo mais de 48 mil votos para deputado federal, sem jamais ter disputado nenhuma eleição. É presidente municipal do PRB.

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Este post tem um comentário

  1. Darlene Neri

    Já bem diz na constituição federal a lei é para todos,do jeito que o Brasil vai morrendo”de fome um pouco por dia”tirando do cidadão o direito de sustentar suas famílias e viver uma vida digna,não se pode deixar questões como essa de extrema “particularidaes” fica à sombra de um talvez.

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