Cresce a quantidade de pessoas neurodivergentes no país e ciência tenta entender o motivo

O aumento de diagnósticos de neurodivergência no Brasil desperta questionamentos sobre as causas e abre espaço para pesquisas aprofundadas no país, com o objetivo de entender os motivos desse crescimento. 

Embora não haja uma resposta definitiva, fatores como avanços nos critérios de diagnóstico, maior acesso a especialistas e o papel das redes sociais estão entre os elementos que podem explicar esse fenômeno. Confira quais as recentes descobertas sobre o tema e o impacto social da neurodiversidade.

Neurodivergente: o que é?

O termo “neurodivergente” surgiu para designar pessoas com características cognitivas e de desenvolvimento que diferem da média da população, como é o caso do autismo, TDAH, dislexia e outras condições. 

A neurodiversidade inclui uma série de variações que influenciam a forma como as pessoas pensam, aprendem e interagem com o mundo.

Quem é considerado neurodivergente?

São considerados neurodivergentes aqueles indivíduos que apresentam condições de desenvolvimento neurológico com características cognitivas fora do padrão. 

Isso inclui pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), dislexia, dislalia, Síndrome de Down e outras condições que afetam as habilidades de comunicação, aprendizado e sociabilidade.

Crescimento de neurodivergentes no Brasil

Os casos de neurodivergência no Brasil têm aumentado, especialmente com o avanço nos diagnósticos de TEA e TDAH. 

Diversas pesquisas mostram que mais crianças e adultos têm sido identificados como neurodivergentes, o que levanta questões sobre os motivos desse crescimento.

Alguns dados ajudam a entender o quanto o número de neurodivergentes tem crescido no Brasil. De acordo com dados do Censo de Educação Básica, de 2022 a 2023 o número de crianças e adolescentes com Transtorno do Espectro Autista (TEA) matriculados em salas de aula aumentou 50%.

A Censo revela que em 2022 o número de matriculados era de 405.056. Já em 2023 o número aumentou para 607.144. Esse número é apenas de alunos do ensino básico com autismo, o que nos leva a crer que o número total de neurodivergentes em diferentes idades e formas é muito maior.

Há uma resposta definitiva que responde o motivo do crescimento?

Embora existam diversas teorias e pesquisas em andamento, ainda não há uma resposta conclusiva sobre o motivo do aumento de casos de neurodivergência no país. 

Os especialistas destacam que esse fenômeno pode ser multifatorial, envolvendo desde mudanças ambientais até uma maior conscientização e ampliação dos critérios de diagnóstico. 

Avanços que têm ajudado a compreender o fenômeno

O aumento da neurodivergência identificado nas últimas décadas trouxe também um crescimento nos estudos e avanços na área, ajudando a compreender melhor o fenômeno. 

Abaixo estão alguns dos principais fatores que colaboram para essa compreensão.

Aumento de profissionais de saúde especializados em autismo

O número de especialistas dedicados ao estudo e atendimento de pessoas com TEA aumentou consideravelmente, especialmente em centros urbanos. O mesmo acontece com a especialização de profissionais no segmento de TDAH.

A presença de mais profissionais qualificados contribui para o diagnóstico de casos que poderiam passar despercebidos no passado, ajudando também em tratamentos e no acompanhamento de pessoas neurodivergentes.

Critérios de diagnóstico mais ampliados

Com o avanço das pesquisas sobre neurodiversidade, os critérios de diagnóstico também se aperfeiçoaram. 

Hoje, os profissionais de saúde têm à disposição manuais e métodos de avaliação mais adequados, o que permite um diagnóstico mais preciso. 

Essa assertividade nos critérios permite que mais pessoas, antes não identificadas, sejam diagnosticadas como neurodivergentes, inclusive adultos.

Melhores acessos aos diagnósticos

Além do aumento de profissionais e critérios diagnósticos, o acesso a serviços de saúde e diagnósticos especializados também se tornou mais acessível em várias regiões. 

Clínicas e centros de atendimento estão se tornando mais comuns, possibilitando que as famílias procurem ajuda. 

Isso facilita o diagnóstico precoce e auxilia no encaminhamento adequado das crianças e adultos para o acompanhamento profissional.

Aumento da conscientização e discussão do tema nas redes sociais

A popularização das redes sociais também está entre os fatores que ajudam no reconhecimento da neurodivergência. 

Cada vez mais, o tema é abordado por influenciadores, pais, profissionais da saúde e por pessoas neurodivergentes que compartilham suas vivências. 

Essas discussões ajudam a reduzir o estigma e tornam a população mais atenta a sinais que podem indicar condições de neurodivergência.

Universidade Mackenzie investe em pesquisas

A Universidade Presbiteriana Mackenzie tem se destacado nas pesquisas sobre neurodivergência no Brasil. 

Através de sua faculdade FEMPAR, a instituição desenvolve estudos em parceria com centros especializados, investigando aspectos do autismo em crianças, incluindo fatores genéticos e características específicas do TEA. 

Essas pesquisas visam aprimorar o diagnóstico precoce e desenvolver abordagens mais eficazes para o tratamento e inclusão de pessoas autistas na sociedade.

Profissionais sem qualificação para diagnósticos

Apesar dos avanços, ainda há uma grande quantidade de profissionais que carecem de qualificação específica para realizar diagnósticos de neurodivergência. 

Essa falta de especialização dificulta o acesso a diagnósticos corretos em algumas regiões do país, especialmente nas áreas mais afastadas dos grandes centros urbanos. 

A formação e a capacitação desses profissionais são questões que ainda precisam ser melhoradas para atender à crescente demanda.

Inclusão de neurodivergentes no mercado de trabalho

A inclusão de pessoas neurodivergentes no mercado de trabalho representa um desafio e uma oportunidade para as empresas. 

Embora existam políticas públicas que incentivem a inclusão, a realidade é que muitos neurodivergentes ainda enfrentam barreiras para serem devidamente inseridos no ambiente corporativo.

Uma pesquisa realizada pela Consultoria Maya, em parceria com a Universidade Corporativa Korú e com o apoio da startup Tismoo.me e do Órbi Conecta, ouviu 12 mil estudantes e profissionais para entender o cenário de neurodivergentes no mercado de trabalho. O estudo revela que metade dos entrevistados nunca trabalhou diretamente com pessoas neurodivergentes.

As organizações precisam buscar um ambiente mais inclusivo, desenvolvendo práticas e adaptando seus processos para acolher a diversidade. 

Para que pessoas neurodivergentes tenham acesso a oportunidades, é importante que o ambiente de trabalho seja acolhedor e que a empresa valorize habilidades e competências, ajustando as rotinas conforme as necessidades de cada colaborador.

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