Canções depressivas 

De há muito que venho pensando em escrever algo sobre essa paixão planetária que se chama música. Muitos são os sons, tantos são os versos e infinitas são as inspirações que criam verdadeiras obras primas que enlevam a alma e o coração.

Aprendi a cantar nos grupos de jovens da Igreja Católica da minha eterna Paróquia de Santa Rita do não menos amado bairro da Cachoeirinha.
Volta e meia arrisco soltar a voz em reuniões de amigos quando alguém, apenas ao violão, inicia aquela rodada de MPB raiz, entendido aí, as canções das serestas e serenatas, cujas letras e melodias ainda diziam algo sobre o amor e o romantismo mais puro e intimista.
Viajando recentemente pelas estradas das minas gerais na melhor das companhias, minha amada esposa Elaine, além do bate papo sobre todos os temas possíveis, tínhamos o rádio por companhia.
Naquela região do Brasil, dominam o sertanejo raiz, as baladas caipiras, as canções regionais. Ali, tudo se toca tendo como pano de fundo os temas recorrentes, o amor e a dor, os quais se misturam nas rimas e versos sem fim.
Mas não aquele amor doação e completude, da preocupação com o outro ou o amor mais puro que vem da alma e encanta quem canta e quem ouve.
É o amor drama, o amor sofrimento, o amor perda e o amor que apequena e dói. Credo!
São canções de lamento em meio a histórias quase catástroficas qual as letras dramáticas e dolorosas dos tangos argentinos.
Quem ouve o amor das letras de um Lupiscínio Rodrigues, Pixinguinha, Cartola, Noel Rosa, Ary Barroso, Dorival Caymmi, Aldir Blanc, Vinicius de Moraes e até Roberto e Erasmo Carlos, jamais poderá se contentar com esse troço de sofrência da atualidade, que beira a doença e leva mais à depressão.
É uma tal de traição constante, a dor da perda que não passa, o choramingar por ver alguém que foi embora, numa constante, pegajosa, irritante e repetitiva melodia de mesmos acordes.
Sem falar naquelas rimas sem graça e pobres de criatividade que alguém em rara inspiração tachou um dia de sertanojo.
Muitos memes das redes sociais não cansam de compartilhar vídeos feitos em bares, inferninhos e até em praças de alimentação de shoppings retratando alguém com a cara cheia de cachaça ouvindo essas músicas de péssimo gosto e se desgraçando a chorar e a sofrer.
Arrisco dizer que parte do sofrimento humano relacionado aos desencontros e desencantos amorosos, levam a se matar e a morrer por esse tipo de “amor” não ou mal correspondido, retratados nas letras de gosto duvidoso dessas canções.
Na mesma balada, posso dizer também que muitos jovens e adultos menos preparados para as perdas, traições e separações, mergulham na depressão movidos por um sentimento menor do qual não têm força para se libertar.
Acontece, que a sofrência vende, a sofrência rende e gira bilhões de reais. E é isso o que importa para a indústria fonográfica brasileira repleta de sertanejos cantores e compositores multimilionários.
As Marilias Mendonças da vida, os Guatavos Lima, os Telós, os Chororós e  Luãs Santanas e outros menos votados, estão muito preocupados com a dor e o sofrimento dos incautos fãs. O que lhes interessa nesse vale de lágrimas são os rios de dinheiro que faturam às custas dos melodramas e da idiotização pela música.
Se os versos de “tapas e beijos” fossem criados hoje, já viriam na cola dos autores uma infinidade de processos e, os mimizentos de sempre, diriam que é um incentivo à violência contra as mulheres. Olha que isso é o de menos!
Pior mesmo, é  aguentar rimas horrorosas sem sentido e desprovidas de criatividade; aí, não há ouvidos que suportem.
Sou mais o amor cantado por Nelson Gonçalves, Altemar Dutra, Noite Ilustrada, Jamelão, Orlando Silva, Fagner, Djavan, Alcione, Gonzaguinha, Dolores Duran, etc.
Mas há gosto para tudo, mas eu ainda prefiro viver e cantar o amor por meio da Musica Popular Brasileira raiz.
Té logo!