Campanha em Iranduba, município mais promissor da Região Metropolitana, não projeta melhoras a curto prazo

Há dois anos adquirimos um terreno em Iranduba e decidimos construir uma propriedade que nos proporcionasse um descanso nos finais de semana e ao mesmo tempo gerasse uma nova ocupação para a família – o plantio de árvores frutíferas e a criação de animais. Nosso projeto foi concretizado e está cada vez mais forte, a ponto de nos atrair para passar mais tempo do que inicialmente planejamos nessa terra. Escrevo hoje daqui, aliás.

Infelizmente, não posso dizer que a eleição para prefeito de Iranduba nos dê um alento para os próximos quatro anos. Tenho acompanhado de perto o pleito e o que percebo é uma luta do ruim contra o pior, com coadjuvantes tão pobres de ideias quanto eles.

O prefeito cassado e preso Xinaik Medeiros fez um mal enorme a Iranduba. A população mais pobre depositou nele a confiança de que dias melhores viriam. Era um cidadão do povo, um taxista, que se identificava com a maioria. Na prefeitura, se dedicou apenas a roubar. E isso causou enorme decepção, a ponto de pensarem que o melhor seria  voltar ao passado.

O passado tem nome. Chama-se Raimundo  Nonato Lopes, o candidato do PMDB. Pelo que vejo nas ruas, ele desponta como favorito. Faz uma campanha impressionante para dias tão bicudos. Vários carros de luxo circulam pela cidade com seu adesivo. Ele até que fez algumas coisas quando foi prefeito, mas nada de muito relevante ou duradouro. No máximo uma escolinha aqui, outra ali; uma ruazinha asfaltada aqui, outra ali; um postinho de saúde aqui, outro ali. Não aproveitou a máquina de trabalhar chamada Eduardo Braga, correligionário que esteve no governo do Estado na maior parte de sua gestão.

Nonato é um político da velha guarda. Delegado de Polícia, foi deputado estadual muito ligado ao ex-governador Amazonino Mendes. Na gestão dele como secretário de Segurança, o “Negão” ficou tão bravo com a falta de atuação da Polícia que decidiu extingui-la para criar a tal Polícia Judiciária, que nunca saiu do papel. Não ouço falar de suas ideias para melhorar Iranduba. Nas ruas, o povo vestido de camisa vermelha que caminha nas ruas pedindo votos para ele não conhece suas propostas. Diz apenas que ele já mostrou o que pode fazer e fará muito melhor que Xinaik. É pouco. E pesa contra ele a idade muito avançada e a saúde nem sempre perfeita.

O principal adversário de Lopes é um velho conhecido da população de Iranduba. É a quinta vez que tenta se eleger prefeito. Trata-se do empresário Francisco Silva, mas se você pronunciar esse nome nas ruas de Iranduba e nas comunidades, ninguém vai saber de quem se trata. É que todo mundo o conhece pelo apelido: Chico Doido. Isso mesmo. Embora tenha uma campanha bem mais modesta que a de Nonato Lopes, este dono de madeireira e de imóveis, que tem discurso de quem nunca sentou em um banco escolar, faz uma campanha do tipo “é a vez dele”. Nas ruas, seus apoiadores dizem que está na hora de lhe dar uma oportunidade.

Mas Chico Doido também não tem propostas. Pelo menos aquela que esperávamos ouvir. Dificilmente faria uma gestão inovadora. Faz campanha no velho estilo “muito barulho e poucas ideias”. Não por acaso é filiado ao famigerado DEM.

Correndo por fora está a “dona da máquina”, a prefeita Madalena de Jesus, a “Madá”. Confesso que fiquei animado com ela assim que assumiu de fato e de direito, substituindo Xinaik. Rapidamente ela começou a trabalhar nos ramais e realizou uma espécie de “operação tapa buracos” na cidade e no distrito do Cacau Pirêra. Era fogo de palha. O trabalho logo se revelou um fiasco. Asfalto de péssima qualidade, que já está se soltando, e maquiagem nas vicinais.

“Madá” vive cercada por algumas das mesmas cabeças que levaram Xinaik à desgraça. Não tem luz própria. Pensou em mudar o quadro escolhendo o jovem empresário Rafael Romano como vice – ele disputou a eleição passada e teve pouco mais de 1.500 votos. Ocorre que ele não é muito bem visto na comunidade por causa dos rompantes. A chapa, portanto, vai tentar se valer da máquina para tentar alguma coisa, mas a rejeição é enorme e as chances reduzidíssimas.

Mas há uma luz muito tímida no final do túnel e ela atende pelo nome de Alain Cruz. Funcionário de carreira das Centrais Elétricas do Amazonas, a antiga Ceam, foi ele o responsável por implantar o programa Luz Para Todos em quase todas as comunidades de Iranduba. Não o conheço pessoalmente, mas pelo que ouço e vejo nas redes sociais, trata-se de um sujeito decente e bem intencionado.

O problema é que a campanha dele padece com a falta de estrutura. O rapaz é o único dos quatro candidatos que tem propostas bem elaboradas. Sabe que tem reduzidas chances de vencer, mas parece estar plantando uma semente para o futuro. Se votasse em Iranduba, eu iria nele.

Lamentei muito a desistência do atual presidente do Detran-AM, Leonel Feitoza. Mesmo sem raízes no município, ele teria preparo intelectual para fazer uma gestão diferente. Foi tirado da disputa por seu partido, o PSD, que optou pela prefeita.

O quadro é angustiante e projeta pelo menos quatro anos de uma administração do tipo “mais do mesmo”. Iranduba parece ainda não ter aprendido a escolher seu prefeito. Nas últimas décadas, sucederam-se no comando do município mais promissor da Região Metropolitana de Manaus administradores limitadíssimos. O que existe de modernidade depois da construção da ponte, que o transformou numa espécie de nova zona da capital são os empreendimentos particulares, que nem sempre respeitam a legislação ambiental.

Em 2012, o Produto Interno Bruto (PIB) municipal de Iranduba foi estipulado em R$ 343,081 milhões, com representação de R$ 8,1 mil por habitante. Em 2015, a população do município, conforme estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística , era de 45.984 mil pessoas, o 11º mais populoso do Estado.

A economia de Iranduba dispõe de sistemas de arranjos produtivos locais na produção com base mineral, cerâmico e oleiro; na produção de fécula e farinha de mandioca; na produção de polpas, extratos e concentrados de frutas regionais; na produção de pescado; e também no turismo ecológico e rural, no artesanato, gastronomia e sítios arqueológicos, conformes informações da Secretaria de Estado de Planejamento, Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia.

A proximidade da capital e o potencial de crescimento deveriam ser aproveitados por uma administração moderna e dinâmica, mas, aparentemente, ainda não é dessa vez que isso vai acontecer.

 

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Este post tem um comentário

  1. Gelce

    Boa noite, fico feliz com reportagens sobre o município de Iranduba……eu, como muitos amigos torcem por mudança política, e existe uma só esperança com Alain Cruz 77e Anderson Belfort .

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