As razões das abstenções, votos nulos e em brancos na eleição para governador do Amazonas

Por Carlos Santiago*

A democracia representativa passa por uma crise profunda de legitimidade. Essa crise é refletida na crescente onda de abstenções eleitorais, de votos nulos e em brancos. Dados recentes do Tribunal Superior Eleitoral – TSE, relevam os números da crise: no segundo turno das eleições municipais de 2016, aproximadamente 10,7 milhões brasileiros, cerca de 32% do eleitorado, dos 32,9 milhões com direito de votar, não compareceram às urnas ou votaram nulo ou em branco.

Exemplos não faltam. Os prefeitos das cidades do Rio de Janeiro/RJ, de Belo Horizonte/MG e de Porto Alegre/RS foram eleitos com um número de votos menor que a soma dos votos em brancos, nulos e abstenções. Até o prefeito de São Paulo, João Dória (PSDB), que venceu as eleições no primeiro turno, teve menos votos válidos que a soma dos inválidos.

As causas dessa situação são inúmeras, dentre elas: a péssima qualidade das atuais lideranças políticas do País; o envolvimento de políticos  em crimes de corrupção; partidos políticos que têm como objetivos os interesses de famílias ou de pequenos grupos de dirigentes que procuram tão somente fazer negociatas com os governos.

Esse quadro teve reflexos também no resultado da eleição suplementar de 2017 para governo do Amazonas, ao qual somou-se outras questões, tais como:  a falta de transporte no interior e a ausência de gratuidade na capital; a judicialização do cargo de governador após a cassação de José Melo, causado incertezas no eleitorado; e a realização de eleição única somente para os cargos de governador e vice, deixando de envolver outras forças políticas no pleito.

 Já no primeiro turno da eleição, a abstenção na cidade Manaus alcançou 15,4% dos eleitores de Manaus, um número muito superior aos 8,59% da eleição anterior, que somadas totalizaram 24,31% em todo Estado do Amazonas, um percentual maior do que os que faltaram em 2014, quando a abstenção foi de 19,4%.  Em 2014, o números de eleitores que não votou foi de 433.813 e, em 2017,  o número subiu para 567.341.

Ainda no primeiro turno, em 19 cidades do interior do Estado, às abstenções foram superiores a 40%, como aconteceu, por exemplo, na cidade de Envira, onde 48,5% do eleitorado não foram votar. Outras cidades ficaram acima desse patamar como:  Ipixuna, 48,2%, Santa Izabel do Rio Negro com 46,8% e, Barcelos com 45,5%, dentre outras.

Quando saiu o resultado do segundo turno, a soma do total de abstenções, brancos e nulos foi superior às votações do governador eleito, Amazonino Mendes (PDT), e do segundo colocado, Eduardo Braga (PMDB). Foram 70.441 (4,06%) votos brancos, 342.280 (19,73%) nulos e 603.914 (25,82%) abstenções, somando 1.016.635 (43,47%). Amazonino obteve 782.933 votos válidos (59,21%) e Braga, 539.318 (40,79%).

A crise moral que passa a democracia representativa influenciou nos números de abstenções, votos nulos e em brancos, no Amazonas. Mas a falta do transporte, em especial, no interior do Estado, a judicialização do cargo de governador e a realização da eleição somente para os cargos de governador e vice foram impactantes no resultado final do pleito suplementar de 2017.

 *O autor é sociólogo, analista político e advogado