Surpreendidos pela presença da esquerda nas ruas, os entusiastas do impeachment se dedicaram a espalhar ontem nas redes sociais memes falsos, ora dizendo que os manifestantes pró-Dilma estavam sendo pagos, ora minimizando a quantidade de pessoas. O fato é que o “outro lado” acordou. Em Manaus o que se viu foi uma mobilização considerável de estudantes e professores universitários, militantes, sindicalistas e profissionais liberais, que formavam o maior contingente entre os que estiveram no Centro da cidade.

É evidente que o número de manifestantes da sexta-feira foi menor que o de domingo, quando os partidários do impeachment estiveram nas ruas. Mas não foi a periferia que reforçou a marcha da esquerda, como alguns apregoam. A grande massa continua quieta, observando os acontecimentos sem se envolver.

Ficou claro que o duelo é entre a maior parte da classe média e principalmente a classe A (empresários principalmente) contra a elite intelectual e sindical. Não por acaso houve manifestações em centros universitários de excelência Brasil a fora contra o impeachment.

Passou a ser um embate ideológico. A maioria dos que apóia o governo admite a corrupção, mas diz que só foi possível notá-la agora por que se permitiu a investigação e se deu liberdade aos órgãos de controle, ao contrário do que ocorria anteriormente.

Outro detalhe: a massa de esquerda é homogênea e sabe muito bem o que quer. Do outro lado, a massa é heterogênea e reúne múltiplos interesses, o que torna um possível Brasil pós-impeachment imprevisível.

Fato é que a manifestação de ontem surpreendeu até a Rede Globo. Era visível na feição de seus jornalistas o susto com aquela gente de vermelho nas ruas.