Vai que é tua, MOTS!

Por Ronaldo Derzy Amazonas*

Quando o negociado e o legislado andam lado a lado.

O MOTS- Movimento Organizado dos Trabalhadores da Saúde do Amazonas é um movimento nascido no seio da massa de servidores da saúde do estado sejam eles da susam ou das Fundações com a única e precípua finalidade de representar de forma compacta as 32 categorias técnicas e profissionais dos servidores na luta pela recomposição salarial tão aviltada pelos sucessivos governos.

Somos uma organização supra sindical, supra partidária e eminentemente voltada para os interesses coletivos de uma categoria de servidores do estado tão esquecida e tão vilipendiada nos seus direitos especialmente aqueles definidos e assegurados no Plano de Cargos-PCCR,  uma Lei aprovada pelo parlamento e sancionado pelo governador.

Hoje o MOTS se difunde em pelo menos 5 grupos de zap com pelo menos 1500 servidores inscritos espalhados pela capital e ao menos 17 municípios do estado. Não é pouca coisa!

Desde o seu nascedouro há pelo menos dois anos atrás ainda sem a ostentação da sigla atual, o MOTS vem enfrentando as dificuldades próprias de um movimento civil sem sede própria, sem registro legal, sem meios apropriados para melhor se organizar mas também, vem colecionando conquistas dado o caráter de independência política e financeira que se obrigou a manter para que nenhuma pecha de atrelamentos lhe fosse impingida.

A luta não é fácil mormente porque nesse curto porém vitorioso período de existência o MOTS tentou se fazer ouvir por 3 governadores e 4 secretários de saúde, cada um com suas vaidades, seus caprichos porém, todos desprovidos de sensibilidade para ao menos receber a cúpula do movimento composta por 3 sindicatos da saúde e 5 associações de servidores.

Quando o gelo finalmente foi quebrado ao sermos recebidos pelo atual Vice Governador durante manifestação pacífica na frente da sede do governo, eis que o governador do estado anuncia que neste ano nenhuma reposição salarial seria feita isso depois de atender de forma integral às exigências salariais e benefícios de pelo menos 3 grupos distintos de servidores. Foi aí que a porca torceu o rabo!

Como assim Negão?

Tenho usado durante as tratativas com nossos interlocutores no governo a seguinte comparação:

Há uma balsa singrando o Rio Negro repleta de servidores do estado. Em certo momento, dela caem ao menos 4 servidores os quais não sabem nadar. O governo do estado, organizador da viagem, joga bóia de socorro para o servidor da educação, um secretário de estado pula nágua para salvar o servidor da segurança, o policial civil é socorrido pela lancha e o servidor da saúde tá lá se afundando já sem forças apelando por salvamento com os braços desesperadamente balançando, a balsa está se distanciando dele e ninguém do governo nem aí pra ele.

Como não somos de ceder ao desânimo e continuamos acreditando que a fé, a força e o foco devem nortear nossas ações, a Comissão Central do MOTS aumentou os níveis de persuasão sobre os servidores e de pressão sobre o governo durante a leitura da mensagem governamental na Assembleia Legislativa e finalmente o governador abriu-se aos apelos da categoria e anunciou o atendimento de pelo menos 3 itens da pauta de 4 reivindicações contidas no documento entregue ao governo e, no dia seguinte, o secretário da susam fez um périplo pelas Fundações de Saúde anunciando oficialmente o retorno do Vale Alimentação ainda que parcialmente, o pagamento de uma das datas base das três em atraso e a recomposição da Mesa Estadual de Negociação salarial do SUS-MEPNS, talvez a maior das conquistas do MOTS, item esse que trataremos em um capítulo à parte nesse artigo dado o grau de importância e simbolismo que esse ato carrega porém, adianto aqui, que nas palavras do próprio secretário da SUSAM a MEPNS “precisa passar por uma recomposição”. Digo eu, que enquanto fórum de análises, debates e propostas salariais em favor dos servidores a MEPNS precisa espelhar verdadeiramente os anseios de uma categoria ávida por ver reconhecida sua importância estratégica no seio da sociedade. A Mesa Estadual do SUS não pode continuar a ser composta por sindicatos cujos dirigentes representam a si mesmos; na Mesa não pode estar presente um membro que, sendo ocupante de um cargo de confiança na SUSAM, peca pelo conflito de interesses no que os americanos costumam chamar de revolving door(porta giratória), ou seja, ora está dentro com o gestor ora está fora com os trabalhadores; a Mesa não pode ser composta por um sindicato que sequer tem ligações com os servidores estaduais dado que representa tão somente servidores do município.

A Mesa, representa muito mais do que qualquer um dos seus membros e das suas entidades componentes, a Mesa é muito mais do que a vaidade e o capricho de ganhar notoriedade ou louros. Ali não é lugar para subserviência e conchavo com o gestor.

Por ser paritária, 10 entidades sindicais representam os servidores e 10 membros são dedicados pelo gestor, o que a Mesa deve buscar incessantemente pelo consenso dos seus membros é a melhoria do espaço de trabalho e a dignidade salarial pois assim está definido na Lei que a impõe.

Rogo a Deus que por iniciativa própria muitos membros da Mesa peçam pra sair e  dêem lugar a entidades e pessoas imbuídas tão somente da defesa dos trabalhadores da saúde pois este refletirá um gesto de desapego, grandiosidade, espírito público e respeito aos servidores da saúde do Amazonas.

Por fim, devo lembrar, que para o dia 19/02 às 09:00 na Assembleia Legislativa os servidores da saúde do estado estão convidados para participarem de uma Audiência Pública  chamada e organizada pela Defensoria Pública estadual onde haveremos de mais uma vez juntamente com os parlamentares, Ministérios Públicos, Tribunal de Contas, Ministério Público de Contas, SEFAZ, SUSAM e MOTS, ouvirmos os clamores dos servidores e discutirmos propostas para que servidores e governo encontremos por meio do diálogo e da negociação a solução mais apropriada e definitiva para a pauta de reivindicações apresentadas.

Por fim, devo constatar que nunca estivemos tão perto de chegarmos ao pleno atendimento das nossas reivindicações porque temos à frente da SUSAM um gestor que é servidor da saúde como todos nós, possui vasta experiência administrativa e, mais que isso, detém com o governador do estado larga aproximação que o coloca na linha de frente como um dos secretários de governo de maior influência na atual gestão portanto, haverá de usar desse prestígio e dessa posição para, dialogando com os servidores, alcançarmos o ponto central que almejamos.

Té logo!

*O autor é farmacêutico e empresário