Poderes paralelos

Por Ronaldo Derzy Amazonas*

Enquanto os homens exercem seus podres poderes…”é parte da letra de uma famosa música da obra de Caetano Veloso que, em síntese, revela além do inconformismo do autor com tanta degeneração da sociedade, uma visão quase profética ainda que num linguajar metafórico, do que haveria de vir décadas depois em termos de esculhambação geral na nossa pátria mãe gentil.Transpondo a letra do Caetano para o Rio de Janeiro(cada dia menos lindo do que deveria):”…Enquanto os homens exercem seus podres poderes morrer e matar de fome de raiva e de sede  são tantas vezes gestos naturais..”o que observamos? ora, o mais absoluto retrocesso político, social e humano de um povo que paga o preço por suas escolhas eleitorais equivocadas, antigas e recentes, e por sua gênese (que só a antropossociologia explica),   calcada na Lei de Gerson e no eterno e etéreo prazer alimentado por samba, futebol e carnaval, tríade que alimenta e inebria o povo carioca outrora berço e centro político da nossa república.

O poder paralelo exercidos pelo estado e pelo tráfico de drogas é um claro sinal de que a sociedade carioca esta enferma e, de há muito, perdeu a noção de controle do primeiro sobre o segundo e, amarga por isso, esses revezes sociais onde crianças ficam sem escola, trabalhadores faltam ao serviço, cidadãos honestos ficam presos em casa ou morrem vítimas dessa violência, o comércio fecha as portas, o transporte público e privado ficam prejudicados, o estado perde capacidade arrecadatória, entre outras mazelas sociais, humanas e econômicas que afligem um povo que teima em sonhar com um manhã mais seguro e onde seus direitos de cidadão sejam respeitados.

Avançando na letra magistral do novo bahiano:”…Enquanto os homens exercem seus podes poderes motos e fuscas avançam os sinais vermelhos e perdem os verdes. Somos uns boçais…” podemos dizer que também atualmente, na política central do nosso país, os poderes também são exercidos paralelamente numa queda de braço perigosa entre o parlamento e o judiciário.

O primeiro, constantemente enredado pelos seus pares em escândalos de corrupção e, agindo com absoluta omissão sobre seu importante papel na construção de uma sociedade equilibrada, avançada e justa, permite-se agora a afrontar o ordenamento jurídico e o equilíbrio entre os poderes ao abrir uma guerra de egos e de desobediência à lei na tentativa de salvar um dos seus pego recentemente em gravações e artimanhas vergonhosas de corar até o Conselheiro Acácio personagem de poucos atributos morais da obra de Eça de Queiroz.

Por outro lado, a mais alta corte judicial do país na sua fase mais cruel de absoluto ativismo político (ressalve-se que há uns poucos ainda cônscios das suas obsequiosidades como guardiões da Constituição) mergulha perigosamente no corredor largo das vaidades e da boca frouxa, permitindo que alguns dos seus pares dêem margem para desconfianças de que suas decisões são adotadas menos por critérios de tecnicalidade jurídica e mais por conveniência política junto àqueles ou àquelas que os indicaram para o Pretório Excelso.

A quem interessa essa guerra de egos e vaidades infladas ou a insistência de agir em desobediência  à Lei ou demonstração de supremacia de um poder sobre o outro? Quem libertará a sociedade da violência e do medo ou quem haverá de colocar em primeiro lugar os interesses do povo e não seus próprios interesses?

Afirma a Lei da Física que as paralelas só se encontram no infinito; já que estamos aqui a falar sobre poderes paralelos ora agindo maleficamente e em detrimento da sociedade ora se sobrepondo uns sobre os outros, espero que não tenhamos que aguardar que a Lei da Física seja provada para permitir esses encontros ocorram ou pelo menos uma aproximação seja possível para o bem do país e da sua gente.

Té logo!

*O autor é farmacêutico e empresário