Perfis dos postulantes à Câmara dos Deputados indicam a falta do novo na política

*Por Carlos Santiago

A “nova” representação política do Amazonas na Câmara dos Deputados poderá continuar sendo composta por maioria absoluta de homens brancos, de classe média com alto padrão de vida, bons rendimentos, detentores de cargos na máquina pública e com perfil conservador quando relacionados aos temas da mulher, dos movimentos LGBT e da reforma política popular.

Essa foi a resposta a uma indagação feita a mim por um jornalista do jornal Estado de São Paulo sobre a possiblidade de novos nomes ou diferentes nas eleições 2018 para a Câmara dos Deputados e o uso das redes sociais para impulsionar o novo na política local.

 Para responder o questionamento, busquei ressaltar elementos sobre o tema: novidade na nova legislação eleitoral, a importância da internet como fonte de informação, o grau de profissionalização no uso das redes sociais, campanha via internet na Amazônia e os perfis dos “novos” nomes que estão sendo lançados.

Legislação eleitoral

1. A nova reforma política de 2017 traz a novidade de liberar o impulso patrocinado no facebook, durante a campanha eleitoral, pago pelo candidato e pelo partido político.

 2. A partir do 15 de maio do ano de eleições, ou seja, 15 de maio de 2018, será possível arrecadar recursos para uma candidatura via internet, uma espécie de “vaquinha virtual”, com propostas aceitas por doadores. A doação será feita por pessoa física. Os gastos das doações serão realizados somente no período da campanha autorizada.

3. Nas eleições de 2018, a cláusula de barreira ou de desempenho, aprovada na reforma política 2017, será aplicada. Votação mínima, por estados, terá que ser conquistada pelos partidos para continuarem a obterem o acesso ao fundo partidário e à propaganda partidária no rádio e na Televisão.

 Importância da Internet e dificuldades no Amazonas

1. Segundo pesquisa CNT/MDA, 39% das pessoas usam a internet para buscar informações, um percentual bem acima dos rádios/jornais e um pouco abaixo da televisão.

2. As estruturas das últimas campanhas eleitorais majoritárias já contavam com equipes de redes sociais bem maiores que as equipes de rádio e jornal.

3. Falta de sinal da internet ou sinal de péssima qualidade. Em muitas cidades do Amazonas os serviços de internet são tão precários que ninguém consegue baixar um vídeo ou abrir uma imagem.

Perfis dos novos nomes cogitados para disputar uma vaga na Câmara dos Deputados

 1. Os nomes cogitados são de vários partidos, entre eles: o chefe da Casa Civil do governo do Estado, um deputado estadual pelo PT, um deputado estadual pela Rede Sustentabilidade, o presidente Câmara Municipal de Manaus, o vereador líder do PSB, o vice-governador, o presidente da Assembleia Legislativa e um apresentador de televisão.

 2. Algo em comum(com exceção do apresentador de televisão), hoje todos detém os benefícios da máquina pública, são da classe média com bom padrão de vida, empresário e até uma pessoa rica, sendo que todos são homens e com a maioria absoluta de pele branca.

3. Os cargos que detém ajudam o bom profissionalismo no uso das redes sociais. Alguns até com grande equipe para impulsionar suas imagens.

Conclusão

O novo ou o diferente na política do Amazonas parece que não surgirá por enquanto. A internet precária nas cidades, o grau de profissionalização e a luta contra candidaturas com estruturas pagas pelos contribuintes, além da dominação dos partidos pelos caciques, indicam que o novo não terá espaço.

Tudo indica também que não teremos representantes das etnias indígenas do Estado na Câmara dos Deputados, nem o crescimento da representação das mulheres, nem de representantes negros e de movimento de trabalhadores. Teremos um crescimento da bancada religiosa e com tendência a crescer a velha política.

*O autor é sociólogo, analista político e advogado.