O falecimento da mulher que me ensinou o significado do beijo

Por Carlos Santiago*

Recebi com dor na alma a notícia do falecimento de uma pessoa que eu admirava e de quem também gostei muito, mas nunca lhe revelei isso. Só agora apreendi que nunca devemos deixar para depois os sentimentos e a gratidão, porque o depois pode nunca acontecer.

Eu gostava de estar perto dela. Gostava de ficar olhando seu sorriso cativante, seu jeito irreverente, sua inteligência e a capacidade de ser afável com as pessoas. Loura, alta, elegante, bastante comunicativa e… linda.

Era advogada, procuradora, assistente social e professora universitária. Tinha conhecimento diversificado. Além de adoradora de poesias, contava histórias dos clássicos da literatura mundial como ninguém.

Certa vez ela me disse: “ você, menino, só irá me beijar quando souber o significado de um beijo pra uma mulher como eu”. Eu estava com quase 30 anos de idade, ela uma mulher já próxima de completar 50 anos. Com o tempo e com as poesias de Fernando Pessoa e de Ferreira Gullar, desmontei as suas resistências.

Há 20 anos, não tínhamos mais contatos. Sempre que passava próximo da sua residência ficava com uma vontade de visitá-la, de contar-lhe um pouco da minha vida nos últimos anos: a compra da minha casa, as minhas profissões, os meus amores, as minhas decepções e ….

Mas nunca arrumei tempo para visitá-la. Hoje fiquei sabendo do seu falecimento. Estou com dor na alma. Uma dor também de não poder dizer mais pra essa pessoa que ela foi muito importante na minha vida emocional e na minha formação intelectual.

Eu espero nunca mais deixar para depois pra dizer da gratidão e do amor que sinto por pessoas que foram e são importantes pra mim.

*O autor é sociólogo e advogado