Negociando com altivez!

Por Ronaldo Derzy Amazonas*

Meus fiéis e insistentes leitores de todas as segundas feiras sabem da minha condição de servidor público há quase 35 anos e prestes a se aposentar. Sabem igualmente que ser servidor da saúde é quase um sacerdócio dadas muitas vezes as adversidades que encontramos ou para exercer esse mister frente aos desafios do dia a dia ou para servir com ética e profissionalismo em meio às dificuldades geradas pelos governos ou, principalmente, para sobreviver com o salário que nos é pago.
Ano passado ocupei aqui esse espaço para chamar atenção do gestor municipal concitando-o a agir com sensibilidade diante dos canais de negociação salarial dos servidores da Secretaria Municipal da Saúde cuja reajuste previsto em Lei denominado Data Base estava em atraso (como ainda está dado que o gestor não cumpriu a Lei pagando o reajuste nove meses depois sem a retroatividade) porém disse eu naquele artigo que – Negociar é preciso porém sem vergar a coluna.

Volto à carga sobre o mesmo tema posto que também me encontro na condição de servidor público estadual porém, num cenário absolutamente distinto do plano municipal como tentarei demonstrar a seguir resumidamente.

Antes porém, devo afirmar que a saúde pública estadual jamais enfrentou uma condição tão cruel de desvios de dinheiro, amadorismo administrativo, impropriedades gerenciais, falta de credibilidade, abandono físico dos prédios das unidades, demanda reprimida assustadora em consultas e cirurgias, falta de medicamentos e insumos, entre outros desmandos, mesmo à despeito de um orçamento e da disponibilidade financeira sempre crescentes.

Diante desse quadro de quase mendicância e catástrofe somente presente e permitido em estados mais pobres ou países dizimados pelas guerras, os servidores foram pegos pra Cristo porque as sucessivas gestões governamentais e os secretários de saúde fecharam os olhos e deram de ombros para a situação de penúria salarial jamais sentida por quem como eu está nessa jornada há mais de três décadas.

Não pensem os leitores que chegamos aonde chegamos por falta de aviso, desleixo dos servidores, ausência de dados, omissão ou passividade. Muito pelo contrário!

Num espaço de três anos o estado teve no seu comando três governadores e, a saúde, quatro  secretários, com os quais e de forma organizada os servidores tentaram se fazer ouvir por meio dos seus legítimos representantes indicados pelos sindicatos das categorias e associações de servidores. Faltou sensibilidade e sobraram arrogância e omissão por parte dos nossos interlocutores; basta dizer que um Governador e dois dos secretários da SUSAM estão presos pelos motivos que sobejamente a sociedade amazonense conhece.

Foram várias e várias reuniões realizadas, diversos documentos gerados, discussões e análises acerca das reivindicações a serem propostas, energia dependida e emoções afloradas para que uma Comissão de Servidores se fizessem receber e serem ouvidos nos últimos onze meses ora pelo secretário de saúde ora pelo governador de plantão. A cada manifestação pública um pedido oficial para sentar na mesa com um interlocutor e após cada tentativa uma decepção com fugas, subterfúgios e covardia. Quanto desprezo, quanta falta de sensibilidade!

Sabedores de que nenhuma conquista cai de pára-quedas e que apenas o suor produzido nas lutas e  que lavam a alma haveria de nos sustentar e nos impelir para avançarmos mantendo o foco rumo à conquista do que é de direito, prosseguimos desta feita adotando mais uma frente de batalha qual seja no campo jurídico apelando para à Defensoria Pública Estadual para nos representar e defender nossa pauta de reivindicações, a mesma dos últimos três anos.

Pari passo, insistimos na tentativa de sermos ouvidos pelos escalões governamentais e, no último dia 24/01 após manifestação organizada, pacífica e ordeira, fomos finalmente recebidos pelo Vice Governador Bosco Saraiva que gentil e cavalheirescamente recepcionou e ouviu a Comissão de Representantes da saúde que na ocasião lhe entregou o mesmo documento igualmente protocolado aos outros governadores anteriores.

Com firmeza mas sem arrogância e com serenidade porém sem subserviência, a Comissão relatou ao vice governador um a um dos pontos de reivindicação e afirmou-se disposta a sentar na mesa de negociação com o interlocutor autorizado e disposto igualmente a receber e analisar esses pontos desde que sem firulas mas num papo reto entre pessoas responsáveis cujo único objetivo será, por meio do diálogo franco e aberto, encontrar conjuntamente uma solução não só para a pauta das reivindicações salariais porém e sobretudo, para tirar a saúde do atoleiro em que se encontra.

Já nesta segunda feira dia 29/01 como devidamente acordado com o vice governador estaremos sentados para mais uma rodada de conversa talvez na presença do Secretário da Susam Francisco Deodato gestor experiente e hábil e principalmente servidor da saúde condições mais que suficientes para dar prosseguimento às tratativas que nos levem, gestores e servidores, ao encontro das soluções que urgem sejam aplicadas para o bem principalmente dos usuários do SUS, alvos primeiros e preferenciais  de quaisquer gestões e que devem estar situados acima das questiúnculas políticas, individuas e de categorias da área.

Aproveito este artigo que escrevo repleto de esperanças para passar um duro recado às pessoas, dirigentes, representantes ou às próprias instituições associativas ou sindicais cujos interesses subalternos e divisionistas venham a ser ou estejam vergonhosa e sordidamente sendo usados para sobrepujar uma luta árdua, legítima e sem cores partidárias que nos move desde antes. Quero dizer que estes serão pronta e severamente admoestados ou para se engajarem nessa luta ou recolherem-se às suas tristes e conhecidas insignificâncias com um passado de traições, com negociações paralelas ou com posição de subserviência aos gestores numa troca de favores abjeta colocando de escanteio os interesses coletivos e justos de toda a categoria.

A saúde e seus guerreiros servidores homens e o mulheres de bem e extremamente cônscios dos seus deveres funcionais sabem o terreno onde estão pisando seja porque reconhecem suas obrigações seja porque têm firmeza sobre cada uma dos seus direitos até aqui aviltados.

Que Deus nos conduza e nos abençoe nessa marcha!

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