Morre Deocleciano Bentes, um personagem histórico do jornalismo e da cultura amazonense

Para a maioria das pessoas de fora do mercado da comunicação, Deocleciano Bentes de Souza era apenas o irmão do renomado escritor Márcio Souza ou o Deco, fundador da Banda da Bica e frequentador antigo do Bar do Armando, ali na praça São Sebastião. Para nós, jornalistas, ele era bem mais que isso. Foi professor de várias gerações. No meu caso, me ensinou alguns segredos da diagramação (antes da era do computador) e da fotografia voltada para jornais.

Deco foi ainda o autor do primeiro projeto gráfico do Amazonas em Tempo e presidiu o Sindicato dos Jornalistas com personalidade. Mas não era bem aquele professor ou profissional sisudo. Ele se fazia um de nós. Por isso a maioria dos jornalistas e alunos que conviveram com ele o tratavam sem aquela aura de ser superior.

Uma história hilariante vai ficar na minha memória para sempre. Era um dia de aula comum na Ufam, mas ele não estava muito a fim de ensinar. Começou então uma sessão de “galinhagem”. Foi quando a Carmen Lysia, sempre irreverente (hoje é assessora de imprensa do Manaustrans), disse que ele estava parecendo um galo. Deco pegou o giz e começou a ministrar aula na língua do cororicó. Todo mundo entrou na onda.

Lá no fundo da sala o Rui Barbosa, colega adventista que costumava questionar os professores e via de regra não entrava nas brincadeiras, levantou a mão e pediu para se manifestar. Prevendo que de lá vinha uma bomba, Deco pediu silêncio a todos (àquela altura a bandalheira era geral) e concedeu a palavra ao Rui, que era tudo de sério – cantava em coral, vendia anel de formatura e tinha pelo menos o dobro da idade de quase todos nós. E ele, sem esboçar nenhum sorriso, cantarolou: “Co co co co co co ró/ Co co co co co co ró/ O Galo tem saudade da galinha carijó”. Não precisa dizer que a classe desabou em risada.

Só o Deco pra tirar um cara como o Rui do sério.

Vai em paz, professor!

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