Enquanto Arthur vai direto ao ponto, Marcelo encontra um culpado invisível para a crise nos presídios

Os dois protagonistas da última eleição para prefeito de Manaus adotaram posturas bem distintas para se posicionar em relação à crise nas penitenciárias da cidade. Enquanto o prefeito reeleito Arthur Neto foi direto – “Manaus não pode ficar refém dessa guerra suja entre as obviamente sujas facções criminosas Família do Norte e Primeiro Comando da Capital/SP. A Força Nacional deve vir ontem para cá, no objetivo de reforçar o policiamento cotidiano da PM”, disse ele no Facebook, antes do governador José Melo solicitar a FN -, o outro,  cada vez mais aliado do grupo do poder, decidiu encontrar um culpado invisível pela crise – “Enquanto o Estado e a sociedade não combaterem os braços “legais” e as figuras socialmente aceitáveis do crime seguiremos enxugando gelo no combate à violência”, disse.

“Mais de R$1,1 bilhão pagos às empresas Umanizzare e Auxílio Agenciamento de Recursos Humanos… e o resultado, longe de ter sido o da boa gerência. Mais do que nunca são necessários a intervenção federal nos presídios, a vinda da Força Nacional e o distrato com as empresas escaladas para administrar os presídios”, vaticinou Arthur, indo direto ao ponto.

“Esse descontrole não pode prosseguir. O governo estadual precisa cumprir seu dever constitucional de preservar, a qualquer custo, a ordem pública. Manaus exige que seja assim. O Secretário do Sistema Penitenciário, sr. Pedro Florêncio Filho deveria ter sido demitido na própria noite do dia primeiro último. Ouço opiniões positivas sobre sua honradez, mas é inegável que sua missão desaguou em nítido fracasso”, acrescentou o prefeito, mais uma vez ressoando a voz das ruas.

E anunciou o projeto de lei, de iniciativa do executivo municipal, que, modificando parte do Plano Diretor, proíbe a construção e instalação de presídios no perímetro urbano de Manaus. “Uma fuga de presidiários não pode lança-los no coração da cidade. Distantes dele, a recaptura ficará menos difícil e barreiras dificultarão que infernizem a vida dos manauaras”, resumiu.

“É hora de o governador do estado liderar. Nada de omissões ou conformismos. Ele foi eleito para isso e seu dever essencial é precisamente cumprir com o dever de proteger os cidadãos e cidadãs de bem da nossa terra”, concluiu.

O INIMIGO INVISÍVEL

Já Marcelo Ramos, que perdeu uma bela chance de ficar calado, postou texto absolutamente abstrato, fazendo malabarismo para não culpar Melo e o Estado pelo ocorrido.

“Não é possível que o crime organizado e o tráfico de drogas que movimentam bilhões de reais só produzam pobres, favelados e presos! Por absurdo que pareça, toda vez que pegam um “líder” ele está numa favela ou numa cadeia.
Sobra a pergunta: pra onde vai o dinheiro movimentado pelo crime se os criminosos e até seus chefes vivem como favelados ou como presidiários?”, filosofou, sem apontar o caminho desta dinheirama.

“O Brasil precisa parar de fingir, de brincar de combater o crime organizado e o tráfico de drogas. A nossa política de segurança e os nossos governantes têm que parar de cinismo”, disse ele, tentando jogar para o Governo Federal a culpa pelo ocorrido.

Segundo Marcelo, que parece saber mais do que todos os envolvidos na questão, “os chefes do tráfico e do crime organizado, os que se beneficiam financeiramente dessas atividades criminosas já desceram dos morros e saíram das favelas, ou mesmo nunca estiveram por lá, porque seguem impunes frequentando as altas rodas e alguns até as colunas sociais”. Mais uma vez, não citou nomes.

“Sem um esforço de asfixiar financeiramente o crime combatendo com investigação e inteligência as atividades e os empresários “legais” do tráfico e do crime organizado o Estado seguirá refém dessas organizações”, filosofou mais uma vez, tergiversando sobre o que interessa: a crise no Amazonas.

“O problema dos presididos está dentro deles, na absurda desestruturação das unidades prisionais, está em uma cultura punitiva que tudo quer punir com prisão, até os crimes de pequenos potencial e sem violência que poderiam ter penas restritivas de direito e/ou pecuniárias. Mas também está do lado de fora, já que as facções só controlam os presídios porque sobrevirem impunemente e se viabilizam financeiramente aqui do lado de fora”, diz ele, agora se contradizendo (afinal, as facções têm dinheiro ou são os caras da coluna social?).

“O Brasil precisa de um força tarefa do Ministério Público Federal e da Polícia Federal, nos moldes da formada para a operação Lava Jato, com o objetivo de desmontar os braços financeiros “legais” do crime organizado e do tráfico de drogas, desbaratar operações empresariais que servem para lavar dinheiro, prender “empresários” que operam para o tráfico, isso sim seria um bom começo”. Aqui, mais uma vez a culpa é do Governo Federal. É do Brasil, nada de Melo.

“Certamente isso chegaria em empresários e políticos que hoje parecem acima de qualquer suspeita e que frequentam as altas rodas, talvez por isso falte a decisão política e a coragem para fazer o que precisa ser feito”, afirma. Não seria o caso de denunciar quem são estas pessoas? Se não, é leviano jogar a denúncia ao vento.

O jogo de palavras deixa claro: Marcelo Ramos tem lado. É o de José Melo.

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