Cartão vermelho!

Por Dauro Braga*

É extraordinária a transformação comportamental do povo brasileiro durante o período em que se desenrola a copa do mundo. O sentimento de amor à Pátria aflora em cada um de nós e se propaga em escala geométrica, tal e qual um potente vírus, contagiando a todos com a febre do patriotismo.

As manifestações de amor à Pátria são visíveis em todos os recantos deste imenso Brasil, desde os rincões mais inóspitos até as grandes metrópoles. Os logradouros públicos, as nossas casas, os nossos veículos e nós mesmos nos engalanamos com adereços pintados com as cores do pavilhão nacional. A bandeira brasileira, símbolo maior de nossa Pátria, que deveríamos cultuar todos os dias de nossas vidas, no período em que se realiza a copa sai do ostracismo a que é relegada durante a maior parte do tempo e passa a receber demonstrações de amor incondicional.

Nas apresentações da nossa seleção de futebol é admirável vermos os adultos e as crianças entoando o hino nacional com a voz embargada pela emoção e em postura respeitável como assim recomenda a regra dos bons costumes e do civismo.

Agora que iremos disputar a copa do mundo de futebol, que pela primeira vez não vem suscitando o mesmo interesse do povo brasileiro como das vezes anteriores, mas que ainda
consegue reascender um pouco a chama da esperança e ressuscitar o amor próprio desse povo, todos os cuidados foram tomados pela comissão técnica da CBF quando da escolha dos melhores entre os melhores jogadores para comporem a nossa seleção de futebol, tendo prevalecido basicamente, a competência profissional comprovada.

Coincidentemente, no presente ano teremos também eleições para a escolha de Presidente da República, Governadores, Senadores, Deputados Federais e Estaduais. O Presidente da República e os Governadores eleitos serão responsáveis por gerir o destino da Nação e dos Estados durante os próximos quatro anos. Os Senadores e Deputados que também tem mandatos de oito e quatro anos respectivamente, terão a incubência de elaborarem Leis que regulem o funcionamento das Instituições da República e disciplinem a vida do povo brasileiro, mantendo o foco voltado para a melhoria das condições de vida de todos,  principalmente, daqueles mais carentes.

Entendo que, esse grande evento cívico se reveste de importância ainda maior que o primeiro, pois se a copa mexe com as nossas emoções e o nosso sentimento patriótico, a escolha de nossos dirigentes mexe com o destino de nosso país e de todos nós cidadãos brasileiros. A opção e a responsabilidade de escolher o melhor é inteiramente nossa, não temos mais o direito de errar.

Assim como fazemos durante a realização da copa do mundo, também façamos durante o período eleitoral: desfraldemos a bandeira do nosso partido, vistamos a camisa dos nossos candidatos, cantemos os hinos de louvor a eles, façamos dessas eleições um grande evento de civismo, uma monumental festa de louvor à Democracia, mas sejamos prudentes, ajuizados e responsáveis quando formos exercer o sagrado direito do voto, escolhendo entre os atletas que comporão a seleção política àqueles que sejam mais competentes e probos. Afastemos o sentimentalismo irresponsável que provoca em alguns casos a troca do voto por pequenos favores ou por promessas vãs de melhores dias.

Usemos a razão! Escalemos somente os candidatos que tenham competência administrativa comprovada, que saibam driblar com maestria as dificuldades multiformes do dia a dia, que joguem para a lateral as bolas da corrupção, que com a cabeça saibam fazer gol de placa com os recursos públicos aplicando-os corretamente em atividades que tragam reais benefícios aos seus concidadãos.

Esse é o momento certo para abandonarmos a arquibancada onde nos instalamos confortavelmente como meros espectadores desse grandioso espetáculo e partirmos para o
meio do campo, para assumirmos com responsabilidade o duplo papel a que temos pleno direito: de técnico, para escalarmos os melhores que irão participar do jogo político, e de Juiz, para darmos aos incompetentes, aos impatriotas, aos oportunistas, aos corruptos e aos falsos profetas, o merecido, “cartão vermelho”.

*O autor é empresário