Por José Ricardo Weddling*

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Teori Zavascki, morreu ontem em acidente aéreo em Paraty/RJ. Ele era o relator no STF da Operação Lava Jato. Sua morte, além de ser uma tragédia, que enluta sua família e o Brasil, é motivo de reflexão sobre os rumos dos processos que envolvem dezenas de políticos e empresários do Brasil acusados de corrupção.Sua morte pode ser encarada como uma conspiração, uma coincidência ou mais uma fatalidade no transporte aéreo no Brasil. Mas justamente quando a Lava Jato iria começar a desvendar as participações de políticos do PMDB e do PSDB, partidos que capitanearam o golpe parlamentar de 2016, em graves atos de corrupção, há essa coincidência da morte do ministro.

Deve-se exigir uma investigação séria, transparente e rápida, mas com o acompanhamento de entidades da sociedade civil e até do exterior, pois desde maio do ano passado a família já relatava preocupações e ameaças com vistas de frear a Lava Jato. Disse o filho do ministro, via rede social “(…) se algo acontecer com alguém da minha família, vocês já sabem onde procurar(…)” O delegado federal Márcio Anselmo teria dito que o “acidente” deveria ser investigado “a fundo”.

Quem vai substituir Teori na sua vaga no STF? Segundo a Constituição e o Regimento Interno do STF (artigo 38, inciso IV), o novo ministro será escolhido pelo Presidente da República. Ou seja, Michel Temer, que também é acusado pelas delações premiadas por ter recebido milhões em propinas, irá escolher o ministro que talvez irá julgá-lo. Vários ministros do governo golpista também estão envolvidos na corrupção e na Lava Jato.

Além disso, o novo ministro do STF terá que ser sabatinado e aprovado no Senado. Ora, vários senadores também estão delatados várias vezes, como o Aécio Neves, Renan Calheiros, Romero Jucá, dentro vários outros. Qual a isenção, que legitimidade moral Tem Temer e esses senadores para escolher o novo ministro?

Segundo os executivos da Odebrecht, Temer pediu R$ 10 milhões e vários ministros são citados. Teori iria homologar as delações dessa empresa no mês que vem. Dezenas de deputados federais já estavam na sequência para responderem às acusações de corrupção.

Mas agora o ministro morreu e alguém de confiança dos delatados será escolhido. O enredo, do golpe vai se completando: tirar a Dilma, colocar o Temer, entregar o Cunha, blindar o Renan e parar o Teori. O que vem pela frente?  Alguns chamam isso de “estancar a sangria”.

É bom lembrar que do Amazonas, já foram citados em delações da Lava Jato, o Eduardo Braga do PMDB, Omar Aziz do PSD, Pauderney Avelino do DEM, Alfredo Nascimento do PR, Arthur Neto e Arthur Bisneto do PSDB, dentre outros. A Lava Jato vai alcançar esses políticos do AM? Pelo ministro indicado pelo delatado Temer vai ser difícil. Impunidade à vista.

*O autor é economista e deputado estadual pelo PT