A pergunta que não quer calar: Por que a Umanizzare ainda não perdeu a gestão do Compaj?

A pergunta que não quer calar: Por que a Umanizzare Gestão Prisional Privada, empresa responsável pelo Complexo Penitenciário Anísio Jobim, onde foram massacrados 56 presos no dia primeiro do ano, se mantém sem abalos em seus contratos com o Governo do Amazonas, apesar de ter sido responsabilizada pelo Governo Federal e pelo próprio governador pela tragédia?

As explicações são variadas, mas as principais apontam para a influência de políticos do grupo que governa o Amazonas. O lado visível dessa ligação está nas doações de campanha. A empresa doou mais de R$ 1 milhão ao governador José Melo e tem no deputado Silas Câmara (PRB) um de seus principais lobistas, apoiado com R$ 200 mil para sua própria campanha a deputado federal em 2014, mais R$ 400 mil para a tentativa de reeleição da esposa, a deputada Antonia Lúcia, no Acre, e R$ 150 mil para a filha, Gabriela, que tentou vaga de deputada estadual no mesmo Estado.

A Umanizzare, que recebeu mais de R$ 700 milhões do Estado ao longo dos últimos quatro anos e teve o contrato renovado no final de 2016, sem licitação, teria, além destes dois aliados no governo, mais aliados ocultos e poderosos, a exemplo de um casal muito badalado na política local, que seriam sócios informais da empresa.

Desde que o massacre ocorreu, a empresa divulgou nada menos que quatro notas. Numa delas, explica que tem sede em São Paulo com escritório na avenida Faria Lima, 4221, 2o andar e que é possui mais de 50 colaboradores diretos somente na central e cerca de dois mil funcionários espalhados nas diversas unidades cogeridas por ela no Brasil.

Em outras duas, tenta rebater argumentos levantados pelo Ministério Público de Contas, que pediu a rescisão do seu contrato alegando que ela cobra mais que o dobro do que outras empresas cobram para administrar presídios em outros Estados brasileiros.

“A estrutura oferecida pela Umanizzare, bem como os programas desenvolvidos nas unidades, não permitem comparação com valores praticados em presídios geridos exclusivamente pelo poder público, já que nessas unidades o preso geralmente não dispõe de tais atividades e estrutura”, diz a empresa, relacionando uma série de atividades que se mostraram, entretanto, absolutamente ineficazes para conter os detentos.

A Umanizzare alega que é responsável pela limpeza, conservação predial, manutenção dos equipamentos e estrutura disponibilizada aos apenados (restou provado que estava tudo em estado muito precário), alimentação balanceada (os presos reclamam que recebem até comida azeda), assistência material, incluindo lavanderia, rouparia, kits de higiene pessoal (pelas imagens divulgadas, nada disso chegava aos presos), assistência jurídica, incluindo acompanhamento de processos (se a empresa cumprisse isso, não seria necessário o Tribunal de Justiça anunciar um mutirão para revisar a situação dos detentos), sistema de segurança eletrônica, com gravação de imagens (o dos presos se mostrou mais eficiente) e sistema informatizado de gestão integrada da Unidade Prisional (que mostrou não funcionar).

Em outra nota, a empresa ainda tentou jogar a responsabilidade pelo massacre à Polícia Militar e ao Estado, mas foi desmentida na sequência pelo ministro da Justiça, Alexandre Moraes, pelo secretário de Administração Penitenciária, Pedro Florêncio, e pelo próprio governador José Melo, este em entrevista à Rede Globo.

Mesmo com todas evidências em seu desfavor, a Umanizzare mantém o contrato com o Estado e o governador, apesar de culpá-la, não se movimenta para revogá-lo.

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